segunda-feira, 5 de setembro de 2011
É assim que eu deito em teus braços
De como me apaixonei por um homem de 38 anos. Nada é para sempre. Era o que me diziam. É um desacerto que encurtará teus dias. Quando for jovem madura. Ele será teu homem velho e enrugado. Sim. Eu era a tal lira de 20 anos que os escritores perfilavam. A lira de alegrias. De amores sem nós. De normalidades. De pacata esperança de vida. Sim, ele era o enrugado. O rude. O vivido. O infeliz. O arrepio. O descaso. O atraso. A truculência. O maldito que colhera o lírio do jardim mais sofisticado. Uma censura amargada por anos, anos de indiferença. Era apenas o tempo zombando. Sorrindo amarelado. Pondo em risco o pensamento de toda uma era. O que esperam de uma relação entre o homem e uma mulher. Que fossem fraternos? Amor de irmão? Ou outro disfarce mais apropriado. Como num baile de mascaras. Era uma estrada que não tinha volta. Que já havia percorrido toda, completamente até chegar a ti. Enrugado e velho para uma lira de dois decênios. Eu era feliz, porque conseguia sentar contigo e não te ver como um pai. Deixar-te com gostos. Salivando compulsivamente. E era nas curvas do teu rosto que eu também te via feliz. Esforçando para ser o melhor sorriso aquele modulado pela pele que se desdobrava. Enlaçando-me pela cinta me cobria com olhares e lances de um amor eterno enquanto durasse. Da convicção, de que nada é para sempre, verdade. Era o meu palato, o segredo, o céu da boca, o desassossego. A poeira dos teus anos de vida, minha substância. Eu, o teu prato apetitoso. Tu, o sabor no ponto. Encontrávamos-nos na jocosidade das descobertas. Eu te descobrindo, tu me despindo a pele. Do cordeiro que seduzistes. Tu não era um mostro. Eu não era o anjo. Somos dois amantes. Nas onomatopéias que criamos. Na cumplicidade que burlamos. No respeito que nos fora roubado. Na certeza dos dias encurtados. É o que os outros falam. Hoje ainda te amo. Eu te amo meu enrugado. Nada seria mais seguro que um fim de noite varando o dia, eu nos teus braços
(L.D)
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