quinta-feira, 27 de setembro de 2012

POR QUE A LUTA FEMINISTA DEVE SER CONTRA A FAMÍLIA MONOGÂMICA?



Bom, ao tratar de assunto tão delicado, devemos iniciar categorizando o que concebemos como monogamia:

Etimologicamente, a palavra se forma a partir do Grego MONOS, “um, único”, mais GAMEIN, “casar”. Porém, infelizmente, não é apenas esse conteúdo que a palavra monogamia carrega consigo.

MONOGAMIA, na sociedade capitalista, diferente do que a ideologia burguesa/patriarcal apresenta, não é a livre vontade de se relacionar afetiva-sexualmente apenas com uma única pessoa, como “naturalmente” acontece, ou deveria acontecer. Se assim fosse, não haveria problema algum!

Para compreendermos o significado que a palavra monogamia traz consigo, desde sua origem, é necessário uma contextualização histórica:

A família monogâmica, isso é, a noção de propriedade de um indivíduo sobre o outro, funda-se na transição para a sociedade de classes, aquela em que uma parte da sociedade, a classe dominante, explora a outra e majoritária parte da sociedade.

A passagem histórica de sociedades comunais para sociedades de classes, traz consigo o surgimento da propriedade privada, do trabalho alienado (explorado), e um instrumento especial criado pela classe dominante para organizar e aplicar cotidianamente a violência, o Estado.

Nesta transição, as relações históricas até então concebidas em carater coletivo, como o cuidado das crianças, passam a adquirir a condição de relações PRIVADAS. Fica, então, restrito ao “lar” o espaço de atuação das mulheres e todas as suas atividades ligadas ao âmbito da reprodução da vida (cozinhar, limpar a casa, cuidar dos filhos, etc).

Com esta conformaçao social, compete aos homens o “provimento” de suas mulheres; e estas devem “servir” aos seus senhores, em uma relação de poder. Aos indivíduos masculinos cabe o poder da propriedade privada, serão eles os maridos. Às mulheres cabem as atividades que não geram a riqueza privada: serão esposas ou prostitutas.

A família, tal como hoje a conhecemos, não surge como resultado do amor entre os indivíduos. Surge historicamente como a propriedade patriarcal de tudo o que é doméstico.

Ao referenciar o poder do homem, e a separação dos espaços públicos X privados, a família monogâmica passa a moldar o que é ser homem e o que é ser mulher (constituindo os gêneros masculino e feminino) em nossa sociedade. Tal fato interfere inclusive no desenvolvimento da sexualidade de ambos: ao homem compete, a todo momento, afirmar sua sexualidade, enquanto a mulher deve negá-la, condicionando o sexo apenas para fins reprodutivos: gerar herdeiros que possam perpetuar a acumulação de riqueza da família. Daí a necessidade da garantia de que o filho será mesmo do marido através da exigência da virgindade da esposa – por isso cabe ao primogênito masculino a herança.

“Para assegurar a fidelidade da mulher e, por conseguinte, a paternidade dos filhos, a mulher é entregue incondicionalmente ao poder do homem. Mesmo que ele a mate, não faz mais do que exercer um direito seu.” (Engels, 1979: 68)

Tão falsa é a ideia de que a monogamia é a relação sexual com apenas uma pessoa que desde sua origem é permitido ao homem o rompimento deste “contrato”. O chamado “heterismo”, aceitação social de que apenas os homens mantenham relações extra-conjugais, traz historicamente a reboque as relações de prostituição em que a existência de jovens e belas cativas que pertencem (mesmo que por um período determinado), de corpo e alma, ao homem, é o que imprime desde a origem um caráter específico à monogamia que é monogamia só para a mulher, e não para o homem. E, na atualidade, conserva-se esse caráter.” (Engels, 1979:67)

"A alienação patriarcal sobre a mulher que a converte em esposa ou prostituta, é a negação de sua potência histórica, o rebaixamento do seu patamar de humanidade." (Lessa)

A FAMÍLIA MONOGÂMICA SE CONSTITUI, PORTANTO, POR UM HOMEM E
UMA OU VÁRIAS MULHERES EM UMA RELAÇÃO DE OPRESSÃO — NEM CONSENSUAL, NEM AUTÔNOMA.

Espero que tenha ficado claro que um relacionamento a dois não é necessariamente uma relação de opressão e ficamos muito felizes com a possibilidade de que ainda que em germe, muitos e muitas lutem para construir relacionamentos afetivos emancipados, livres de qualquer opressão.

Aqui, ao falar da FAMÍLIA MONOGÂMICA, estamos tratando de um complexo social que envolve historicamente uma relação de opressão (inicialmente entre homens e mulheres, mas que pode se refratar em relações homo-afetivas também). Opressão esta que tem como mediadores o Estado, a propriedade privada e o trabalho alienado.

Sendo assim, devemos LUTAR contra a família monogâmica, pois ela representa a dominação do homem sobre a mulher!

Está claro para nós que a família monogâmica não comporta a totalidade das necessidades e possibilidades de desenvolvimento do gênero humano! Por isso, é parte da construção de um projeto contra-hegemônico dxs trabalhadorxs o forjar de novos homens e mulheres que se paute em relações livres no sentido mais pleno desta palavra!

Defender que as relações afetivo-sexuais sejam COMPLETAMENTE LIVRES não significa impôr modelos de relacionamentos (se a duas ou mais pessoas). Pelo contrário, é a defesa de que qualquer tipo de relacionamento (inclusive a dois) não deve ser pautado pela propriedade privada, pelo machismo, ou pelo Estado, incluindo a noção de posse de uma pessoa sobre a outra!

Defendemos uma nova forma de organização da vida social, uma sociedade emancipada das relações de exploração e opressão. E, para que esta sociedade seja possível, é imprescindível superar também a atual forma de família.

Somos favoráveis à liberdade mais completa para que as pessoas possam viver seus amores com a maior intensidade e a maior autenticidade. Superar a família monogâmica é decisivo para a constituição de uma sociedade que possibilite o desenvolvimento universal e pleno dos indivíduos.

E, para que isso seja possível, é imprescindível superar a sociedade capitalista e o machismo.

24 de setembro de 2012
Tábata Melise Gomes

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