quarta-feira, 22 de maio de 2013



Sonhamos com amores encantados. Eternos. Intactos. Amores de contos de fadas. Alheios a realidade. Inexistente à versão errada. Vulnerável. E venerada. Rabiscamos desenhos sem formas nem cores. Abstrações enredadas em vontades. Nada multiplicando nada. Somando inteiros, sendo nós metades. Dilatando vazios. Estreitando duas carências numa única – cavando buracos profundos. Loucura sem cura. Semente sem fruto. Sofrimento mútuo. Alegrias mudas. Silêncio triste diluído em amargura. Azedando o doce. Mesclando dores. Colecionando fendas dentro – estilhaçando o peito. E retalhando a Alma. Às vezes é necessário trilharmos caminhos contrários. Nos entregar a encontrados desencontrados. Acordarmos para sonhar de verdade. E vivermos o inteiro da metade. A verdade dos amores instantes. Desencantados de encantos. Eternizados nos agoras. Intactos nas lembranças doutroras. Amores dispersos de nós. Atraídos por nossos nós. Certos das incertezas nossas. Opostos aos nossos expostos. Segregado da literatura figurada. Agregado na vivência sentida. Amores de instantes urgentes. Surpreendentes. Absolutamente incomum a nossa semelhança tosca. Insossa. Amores que nos chamam – nos deixa em chamas. Completamente avesso a fábulas. De carne e ossos e vícios muitos. Amores mutáveis. Significantes. E significados. Despudoradamente despreparados, mas vivos. Dados, lindamente falhos. Nascentes. Crescentes enquanto não chega o desgaste. Amores são sustos alongados com os dias. E diminuído com o tempo. Deixando dentro um carinho. Um conforto-alívio. Um sorriso estampado por tudo ter dado certo. Ou às vezes nada, além de um duro aprendizado. Sempre válido. Louvável. Plausível porque soubemos correr o risco. Amor nunca foi sinônimo de eternidade. Mas vítima de uma perfeição rotulada, encarcerada no dever-ser. No fundo Amor é um acaso descasado do destino, não é para ser. E sim, se acontecer como é – livre. Entre intervalos de silêncios e distâncias. Sombras e sóis. Líquido para sentir e deixa-se sentir. Sendo solidificado se assim surgir à vontade.

Nayara Fernandes

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