domingo, 4 de setembro de 2011

Para entender o porquê te deixei quando te possuí por completo

Agora que o vejo como deveria ter visto desde sempre, tenho o nojo que se tem ao sentir as patas do gato, frias e macias, como a pele de um defunto, a lhe pisar o corpo sobre a cama. E confesso que não é medo, mas estranheza tátil de beijar a pele de um morto, principalmente quando antes de sua pele, tem-se a renda com gotas de plástico. As flores de plástico com gotas me dão aflição de unha, vontade de rapá-las dali, de rapá-las a verdade abundantemente encharcada e refringente de suas pétalas. Mas isso só é verdade de longe, de perto é falso de tão plástico. De longe só não é falso o nojo de beijar-lhe a face gélida de morto, de onde ainda reside alimento para ofertar aos pelos da tua barba. E agora a sensação é de que sempre beijei tua barba antes do rosto, como se beija a renda antes da face morta. Como um filtro que não te permite atravessar, para que justamente não te assustes quando possuíres por completo a face. Exatamente para não lhe ter por completo e acabar por vê-lo como não queria vê-lo, e por fim tê-lo que deixar, porque por dentro eu já não conseguiria contê-lo.

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