Manifesto a favor da sujeira
"eu conto histórias das quebradas do mundarel
Lá de onde os ventos encosta o lixa e as pragas
Bota os ovos, fala da gente que sempre pega a pior
Que come da banda podre, que mora na beira do rio
E quase se afoga toda vez que chove e que só berra
Da geral sem nunca influir no resultado.
Falo desse gente que transa pelos estreitos escambosos
Esquesitos caminhos do roçado do bom deus.
Falo desse povão que apesar de tudo é generoso, apaixonado
Alegre e esperançoso e crente numa existência melhor na
Paz de oxalá,"
(Ogi - Cidade com Nome de Santo)
Somos mistura. Filhos de Ganga. Ganga, na nossa história, escravo de luta. Ganga, na Química, resto, impureza, escória. O que sobra do refino do petróleo. Somos sujeira, somos híbridos.
Juntando as partes, (re)construindo realidades do pó. Poeira mística que envolve e vira casas de muros baixos. Sujeira, lixo. Não nos escondemos, nem escondemos nossas impurezas. São o que nos constitui, o que nos modela nas mãos do artesanato, cheias de barro.
"eu que controlo meu guidom, com ou sem suin-" (Los Hermanos)
Escorre pelos poros e esgotos da convivência diária
passeio na lama
gosto de bebida amarga no começo e agridoce no final.
É poesia misturada, heterogeneidade, heteronomia, transvestindo a harmonia que precede o caos (obras inconclusas viram ruínas no espelho da construção de ideias mal cheirosas). O discurso do inacabamento, da falta de tinta, do reboco descascando do teto da casa sem janelas, se perde, se encontra, dilui-se em tod@s numa explosão de seres místicos no rosto de pessoas assépticas.
Um barro de conchas e impurezas, porque as certezas puras não nos interessam, não nos pertencem, não nos apetecem. sujo. lixo. imundo. não furto da vida expor minhas diferenças e tristezas. minhas amarguras e negatividades. anseios e iniquidades. não me contempla o absoluto, não me seduz o inalcançável, não condiz com a ternura imperfeita de amores, deslizes e gozos. sujo. lixo. impuro. nocivo. sim, faço mau, passo mau, infesto de mau os outros. Mau pra você e sua estupidez de centrismo e purificação do pensar e do sentir. Esse mau é que me move, que move o mundo, que gira o mundo. Enquanto os olhares negadores do seu altar de isopor tentam impor a vontade e o imaginário da população, faço mau, tensiono para o mau desta tua bondade inequívoca e desleal. sujo. lixo. imundo. nocivo. em paz com meus sinais desarranjados. sou sujo, sou carne, sou ser e não ser. sou nuvem e não céu. sou fungo e não terra, sou quimera e não estabilização. sujo. lixo. imundo. nocivo. vivo.
“E quem se julga a nata cuidado pra não quaiar” (Criolo – Mariô)
Altivo e confiante como bêbado seminu do alto de uma corda suspensa entre navalhas flamejantes, o artista inclemente pede calma ao público antes de terminar o teu açoite, verso imundo!!!!!
te bate
se debate
te debate, mas não para que seja filho e escravo da dor, mas para que a dor te entenda e pare de sofrer a agonia que não é tua. abraça teu raio de lua, gigante lua e o dragão varado pela claridade da água em que se reflete.
- se é santo o que vês, quem sabe? a mim parece cratera
- parece quimera onde não vou alcançar se não me projetar fora do que apresento, se não for rebento que rompe no nascedouro de ideias.
por isso, crava no teu ventre a lâmina da inversão, conspira a fuga do teu sangue ingênuo, vê. olha com estes olhos que alimentarão os vermes que tuas hemácias não brilham anil, que teu castelo de verdades e sobriedades, nada mais é do que um arcabouço arquetipado que dança feito marionete de elementos jogados que não são teus e que tu não devorou com sede de fogo e luta. permuta?
vai, te joga debatendo-se e sentindo um pouco de cura no lamaçal da vida, verás ali o real e suas conjecturações, ações e lugares infinitos, louve a deus que o louva-a-deus grená te carrega com maestria de insanidade pelos ares de loucura necessária para o dia. sorria, não por cima, mas profundamente, com todos os dentes e mordidas. vá a vida e siga, evoluindo, sujando-se no barro de origem e da descontinuidade. sirva-se à vontade e arrote o peito de peru engasgado na garganta. as tintas aparecem no meu rosto; não comprei todavia. preenchi de poesia a lacuna da existência. pedi em súplica, quase-clemência derivar em outras veias o que já porejava em minhas veias.
assincronia
desconexão com o que não poderia mais caber em um só. externalizar: partos que se multiplicam e geram vidas que geram vidas que geram vidas em autopoiese espásmica. e dos espamos nasceram as explosões, os regurgitos não mitos de parcelas suspensas de almas de mentes e corações se espalhando e reverberando por cantos descontentes encantados de cantares. as viagens sem nexo, dimensão e textura, murmuram nos ouvidos do além e do convexo, retornando em tiros de sal e pó, em dó, si maior, regendo-se incontrolavelmente pelo acaso e pelo carnal. quebra de vez os complexos contraditórios de purismo e mergulha no fundo do absurdo do olho rasgado do furacão
André Café, Duque de Copas no campo da diácope sistólica, Jorge André e Sócrates quebrando a banca em Cocytus com Aldebaran
Sejamos assim sujos, pra vida rodar, girar em sentidos e sem sentidos
ResponderExcluirE valeu demais a participação do Duque e do Sócrates. (os nebulosos não identificados da sppv)
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