quinta-feira, 24 de maio de 2012

Sobre Alguéns III




Sobre Alguéns III


Não se dê ao trabalho de se apaixonar por mim. Não sirvo para isso. Meu coração é grande, infame e inquieto demais. Não se iluda com minhas palavras ou carícias, são apenas momentos.

Se pode acontecer de que eu me apaixone por você? Sim, pode acontecer. Mas não conte muito com isso. Sim, adoro estar com você, adoro nossos momentos juntos. Me questiona por te tratar como namorado quando estamos juntos? Mas essa é a fantasia, a de fingir que aquele instante é único, que somos só um do outro, que não existe mais ninguém além de nós.

Só quero nossos prazeres, nossos corpos. Entenda, nós mulheres também as vezes queremos só sexo. Mas você insiste em me ver sempre, quer estar sempre ao meu lado, até em público. Isso só dificulta as coisas para ambos. Você se apega a mim, me quer por perto, me liga, me manda mensagens. Uma mensagenzinha safada no meio do expediente é legal, mas coisas fofinhas o dia todo não é bem o que deve ter na nossa relação.

Meu coração é aberto e livre, na verdade minto. Ele é libertino, essa é a melhor palavra. Não quero me prender. Te amo, sim, te amo. No segundos que dividimos eu te amo alí. Quando me faz ter orgasmos fortes, quando me pega quente, quando me beija vorazmente, quando vai buscar algo pra mim (que peço por puro capricho), quando me chama de safada, quando dorme agarradinho de mim, quando me faz carinho, quando me deixa escolher o filme bobo da noite, quando segura meus ombros quando tenho uma crise de choro. Te amo em todos esses momentos. Perceba que posso amar (aliás, todos podemos) desmedidamente durante uma vida toda e durante apenas uma noite. Uma fração de segundos.

Admito que tua companhia mexe comigo, não pense que tenho o coração de pedra. É exatamente por amar demais que sou assim. Te amo e quero amar todos os outros ao mesmo tempo. Sim, isso é uma fuga. Tenho medo de me entregar, de dar meus sentimentos para alguém.

Sim, eu fico imaginando nós juntos. Penso em como seria o futuro de nós dois, em casamento, em filhos, casa, festinhas em família, fraldas em tudo que poderíamos construir juntos. Meras fantasias tolas, para que elas me servem? Apenas para me frustrar, ficar devaneando com você, e com todos que passam pela minha cama. Preciso disso, dessas imagens de futuros inexistentes, preciso me prender a esses devaneios, para poder me prender à algo que eu posso me soltar mais facilmente.

Esses desvarios na verdade me machucam , me prendem e me enfraquecem mais do que se você por livre vontade me deixasse. Me entregar ao seu amor não me conforta, me dá medo, sim tenho medo de amar tão verdadeiramente que eu me perca. Minhas fantasias me suprem, são lindas, perfeitas e com finais felizes. Lá tudo sempre dá certo, você é perfeito, nossa vida é perfeita. Nosso amor é completo e sem falhas.

Me entrego a devanear, mas não só com você. Com todos que partilham meu corpo. As vezes nem isso. Só uma cruzada de olhares no supermercado já imagino toda uma vida. Vou entregando meus sentimentos à esses pequenos momentos de coisas que não existem. O olhar no supermercado, era apenas um olhar.
Quase sempre eles não me dão motivos em momento algum para que eu crie meu mundo de falácia. Eles não me diziam para criar expectativas, não me diziam que me amavam, mas eu sem perceber já me prendia as minhas loucas divagações. E ao mesmo tempo buscava outros sabores, outras diversões, outros corpos. Talvez para me dispersar e deixar meus sonhos loucos, talvez para fugir dos meus pensares.

No fim buscava a maior infinidade possível de prazeres, só para não me entregar ao teus braços. Agora não te tenho mais, porque te dispensei, porque você dizia me amar. E eu não queria me prender.

Agora não te tenho, e não tenho ninguém no momento. Fico me alimentando de minhas alegorias de amores, de minhas histórias da carochinha. Digo para que ninguém se apaixone, para que eu posso me apaixonar por todos, Para poder ter o amor e o sexo de todos.

Enquanto insisto não partilhar meu coração, fico partilhando me corpo. Que é mais resistente as pancadas. Meu corpo se recupera bem de hematomas. Mas já qualquer coração, demora mais. O meu as vezes demora anos para sanar de algumas chagas. Em outras vezes, um banho frio resolve tudo. Lavou, ta novo.
Sim, digo para que não se dar ao trabalho de se apaixonar por mim, porque a bagunça é grande demais. Deixe que eu te ligue, deixe que eu te procure, deixe que eu diga venha. Já que pode estar ficar em outros braços, não prometemos nada um para o outro.

Vai então, te deixo livre assim como os outros. Assim como os outros te entrego meu corpo, porque ao prazeres da carne eu sempre me entrego.

Leve as lembranças de nossas noites e carícias, e me deixe aqui com as inquietudes do meu coração.


(Doda Pereira 24/05/2012)

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