quinta-feira, 31 de outubro de 2013
Pequena marota
Se eu sou assim de ti tomado
num lado que sou teu volume
perfume, tempero, cheiro e sabor
um labor de amor que existe
Eu sou assim de ti grudado
um registro que o vento brinca de girar
como eu pressinto tua pele
numa leve discordância de lei da física
Eu só, sou e fui, será tu, em ti sugado
nada guardado, devoro intempéries
quimera que sou no sul do teu remo
a ermo, não dista, pois somos conquista
Nega, eu sou um sumo do fruto caldado
de lado os infortúnios que insistem
que listem todas as memórias
glórias, que tu faz de mim, salsado
André Café
O meu olho vendo teu olhar
Monique Veloso |
Me transporta todo dia
como se fotografasse um instante de terras do nunca;
lugares que jamais fui, lá estão, em doses de memórias
Do lado de cá do real, estamos:
meu olho mira o transfigurar de sonhos
que seu olhar gira, prum retalho de histórias
A sensação de alívio
que me faz agradecido, por acordo nunca firmado
mas que gera essa amizade, numa vida de escalpos e inglórias
André Café
Haikai de Hannah
Hei Ainda Nunca Negar Alegria Holística
Como Ilha, Navegando Todos Rumos Além
Benvindo para o amor zen
André Café
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
O CIENTISTA NU ESPELHO
Áureo João. Teresina, 14 de outubro de 2013
O Cientista é um ente
autocriado,
autocausado,
autodeclarado,
autodivinizado,
autoproclamado...
O Cientista,
se pensa...
se fecunda,
se pare,
se valida...
faz-se um ente de único gênero e espécie...
Fálico.
Por sua própria ciência e com esta só
e sua linguagem restrita, adoece e morre,
só...
O Cientista pensa...
que o mundo todo
e todo mundo
só existe
por causa de sua ciência apenas e
de sua prescrição doutoral.
O Cientista é escultor de si mesmo;
esculpe sua formosura e formatura;
talha sua matéria-prima, como criador e criatura.
Resultam belas esculturas e finas culturas.
Às vezes, não raro,
abestalhadas criaturas.
O Cientista é um devoto fervoroso.
Na sua trindade sagrada,
dogmática dura,
sua religião-ciência tem fé absurda.
Tradição, Método e Linguagem;
e uma comunidade fanática... Referenciada...
Crentes fanáticos em suas crenças,
os cientistas, aos muitos,
à semelhança de religiosos fundamentalistas,
nos tentam fazer crer como eles mesmos, em ismos e centrismos,
e nos aprisionar em suas correntes...
discípulos dos discípulos dos discípulos
e dos mestres que dominam suas cabeças...
nos perseguem pelas desobediências atrevidas, heresias e descrenças
No panteão da ciência-religião,
autores que se pensam deuses, outros divinizados;
livros sacralizados, teorias canonizadas;
academias-senzalas, adestramentos e açoites;
hierarquias, departamentalizações, citações;
rituais e normas, reificações,
valem mais que as vidas cotidianas manifestas...
apenas para os Cientistas mesmos; só.
Os cientistas inventaram
a Ciência e a Técnica,
o cronômetro mecânico,
os seus domínios sobre a Terra e os Oceanos,
e o estado elevado de sua Arte própria,
para nos livrar dos desígnios dos Deuses Todos,
da tentação do Diabo,
e das moradias do Céu e do Inferno,
Mas, agindo como se fossem Deuses e Diabos, padecem nas bestialidades de seus próprios eus apequenados. O inferno de si.
No currículo dos cientistas, há coisas que nos assustam:
Concorrências desnecessárias, às vezes desleais;
melindres, desafetos;
intrigas, ressentimentos;
estresses, muita pressa;
pressão, depressão, transtornos;
infartos; AVC;
aridez afetiva e espiritual,
apologia ao saber-poder;
solidão;
loucuras.
O Cientista fálico,
de razão e objetividade só,
adorador de sua trindade e do culto em si,
é um gênio tolo falador,
um idiotizado com dureza,
que não acha graça nos adornos e coisas simples da vida;
vive sem ternura;
uma besta que se acha culta e superior aos entes demais...
No plantel dos Cientistas,
autodivinizados,
abestalhados,
tolos,
idiotizados
bestas incultas,
há especiais criaturas.
Estas últimas criaturas são humanos que se sabem e nos sentem;
e sabem que sabem, e quando não sabem;
e sentem que sentem,
e intuem,
e poetam,
e riem livres,
e choram soltos,
e se encantam com os encantados,
e nos ensinam,
com ternura e adornos...
como homens, mulheres e pessoas...
e nos tornam melhores !!!...
São as nossas luzes... e nossos espelhos !!!
A insustentável leveza do dia II
Já não tenho a ilusão daquele minuto,
O tempo tem pressa: abro a porto e salto.
A cidade não espera
E os muros falantes ordenam:
"viva seus sonhos"
Todos os dias no imperativo.
rafaela nandes
Infância
Aquela brisa da manhã, o sol de de 10 horas
a bola rolando, passa a bola Miguel!
Perna de pau, com a camisa do Flamengo
Franzino...
Perdeu a bola.
Júnior, vem tomar teu remédio!
Suado, inconformado. 3X0
Teve que parar.
Gritos marcantes, nostálgicos.
Aquela casa amarela, aquele gramado.
Amigos que partiram, amigos que sumiram.
A velha bola, a velha travinha
O velho sonho de ser jogador.
De cobrar uma falta a la Petkovic
Velhos tempos, velhos sonhos.
Deu 11:30
Perdeu de 5x3.
Era hora de almoçar.
Cada um pra sua casa
Cada um pro seu destino.
E a vida?
Um eterna criança
(Miguel Coutinho Jr.)
Em seu rosto cansado repousa tua vida.
Estavas bem na minha frente fazendo seu último seminário e de uma hora para outra na terra fria...
Lá está alguém que eu mal conhecia e tencionava conhecer,
Mas chegou seu momento, sua vida teve um fim.
Triste dizer, mas você se foi.
Simplesmente impossível crer que estás do outro lado...
Marta de Paula
Domingo em Teresina em memória
Tibor Jablonsky - Rio Parnaíba - Teresina/PI em 1957 |
Abrasador
um carro que espaçonava-me
o reclame em asfalto
Novembro
é frio que arde junto do tempo
a poesia que sonha o fato
Caíram-se,
mas renovadas em estações de longe
nascem as folhas na esquina
Abraça a dor
queima moleiras e memórias
nas histórias de Teresina
André Café
In verso: maltrato
Se eu te disser
Que o verso calado
Em mim me dói
Como o alimento engasgado
Você vai se assustar
Por não poder crer
No que a poesia enclausurada
Consegue fazer
Faz morada na garganta
se entranha no meu mundo
me retorce em silêncio
sofrimento mais agudo
Um maltrato de heresia
açoitando o meu ser
regurgita poesia
deixa a dor 'se perecer'
Ravenna Scarcela e André Café
quarta-feira, 23 de outubro de 2013
O que não-falo e não-penso
aquilo que não quero estar
como se me transportasse para lá
e na realidade me regasse para o longe
Para um começo
sentimento simples
é a chegada ao fim de
ressentimentos e suas alcunhas
Fito com a alma sem vislumbre
existências de ar no mundo suspenso
aquilo que não-falo e não-penso
é o caminho para o áureo cume
André Café
Sabores
Vez em quando me espanta
o sabor imprevisto
gostos degustados em momentos que não lembro
a saliva me transporta
pra deliciosas frequências
de dias recheados de nostalgia
Todos os sentidos em maresia
buscam me deter no tempo
para um movimento de retorno
sobram na mesa a vontade
e o riso rabiscado
engulo o sonho de ansiedade
na sobriedade que me chama
para o azedo
torpor de realidade
André Café
Zen
As coisas suspiram voz
não-voz, não-som
a mente que quer sobrepujar
em diversas essências
é voz dissonante
gritante e displicente
Quero que esses sussurros me cheguem
para não ouvi-los, não senti-los
não suplantá-los
num talo enraizado em flutuação
são todas as cores não-vistas
são tantos ganhos sem conquistas
No meu universo oclumente
florescem presenças do ausente
imaginado em não-mente
André Café
Ao Poeta que sangra lágrimas de juventude
Eterno é o seu gozo
Com o Brilho do teu rosto
Arrasta tudo ao deserto
De futuro incerto
Cheio de sabedoria e ignorância
O convida a pular o muro
Mesmo fadados ao fim
Não cansa de buscar o deserto de felicidade
Victor Barbosa
Victor Barbosa
terça-feira, 22 de outubro de 2013
Domingo em Teresina em Sol menor
Não há o som arredio
nem o clima me importa
atravesso a existência
e me ponho no asfalto
nem os perigos me chamam
só o silêncio me grita
para a folha caída
para o verso encrustado
para o sol desmedido
para o tempo soprado
Não há o som do vazio
nem realidades tortas
me apego a essência
e no ambiente me tato
André Café
Domingo em Teresina
Até o vento acolhe o pedido do tempo
nesse ausente convidativo
rebusco o olhar de esquina
enquanto as folhas de outono caem em terras de verões
segue sua origem, num dançar vazio que me deixou levar
como assim seria delírio inocente
num ardor mais calmo e sereno
daquilo que dizem ser mundo pequeno
uma tarde de domingo teresinense
André Café
Haikai da desmétrica
Se não sou métrica
me ensina o mito da estética
pro meu universar
É só mito, e dito:
apegue-se ao sem rumo
no aprumo do palavrear
André Café
Axé
A gente mistura as duas partes
para colher o melhor sumo
tem sementes de saudade e frutos de axé
positividade e fé
Essa poeira vai baixar
num verso forte deste traço
desenho em letras nosso abraço
pra essa saudade se aquietar
Na falta do real sentir
engasgada a poesia cria
e desfaz feito o magia
o sentido de nos redimir
Yara Silva e André Café
Miasmas
São ilusões ou miasmas de realidades possíveis?
Descabível, hei de pensar sempre
mas aquilo que meu ser confessa impensável
vai além da mente e se toma como ente
No espaço-tempo sem forma
chegam tantas imagens e reflexos
refrações de medo e de saliva
com cheiro de sangue e solitudes
Mesmo de banho mórbido
mesmo sequer admitindo
o descompasso ao vivo das emoções
pede passagem diante da história e seus teoremas
aos problemas suplantando soluções
O inverso, o legado e o ódio
o mesmo caminho evoca
colhe-se tudo em exagero
para a alegria do lume e da forca
passo a passo, tempo e espaço
rabisco possibilidades
numa incerta conveniência de resolução
duma arquitetura da humanidade
Sócrates jogando poker em Cocytus com Satan
Carta a Levi e Marcinha
É alegria, confesso, o maior desses 'sentir',
com o alvorecer de uma nova vida.
Represente o que for, em qualquer teoria ou ciclo que vier
mas o momento nos passa um calor, um carinho acolhedor, uma força que é suave
Veio, chegou, está aqui e já se faz poema
entre o gritou agudo do choro da fome ou da atenção
vem pra cá que tem colo e pirraça
Veio, uma figura quente, viva,
tão pequenina em descabidas mãos
Mas forte do que qualquer canção,
mexendo aí e aqui, com Marcinha, Levi
e o mundo inteiro
Chegou, choramos juntos
um pranto doce que contagia
uma presença que dá a certeza
da vida em amor, sorriso e folia
André Café
Mais um verso revelado
Estavam em sonhos e gavetas
no mais profundo altar
o desejo ímpar de existir
desejos pra se revelar
Entre um vento, o tempo e a razão
eis que tudo se desfez
refeita, a vontade era força
para se explodir tudo de vez
Veio lume, veio ao mundo
num salto de coragem
versos livres, delirantes
resultado de milhagens
Como se flutuasse no ar
a poesia tua e crua
todas as sensações, emana
para quem sofre ou ama
para quem busca um guiar
de qualquer dor que amua
André Café
Desilusão
Hoje me resta o sentimento de morte, a dor da perda,
acostumar-me ao pouco que sobra,
à tudo que fica, ao nada que resta.
Dias e meses de insônia, tristeza, frio...
E o tempo de espera, escuridão, vazio...
Toda mentira existente no amor
Toda falta de sentido da vida...
E apesar de tudo, tenho achado vida em mim
Depois desses dias sem sono, dessas noites sem dias
Tão noturnos dias, tão soturnas noites.
Noites de tão chuvosas horas, de tanto frio e erros...
Tarcisio Bastos
Como ecos ouço algo que vem de longe. Ele não tem nome. Ele não tem sorte. Assim sendo... não tem azar. Ele sou eu. Me chamando. Pois eu já não estou em mim. Faço coisas que me levam a desacreditar... independente do que. A falta da crença é a pior doença que se pode ter. Sem crença nada acontece. Como se materializará um talvez ? Como um quase virará um quarto pra nos deitarmos e deleitarmos de nós? com os nós livres. Pois já nenhuma razão nos amarra pelas pernas. Vivenciamos o mesmo teto. Mas não pisamos o mesmo chão.
Haschi Faria
Pontos do teu corpo de ontem
Tratavam-se de pontos.
Pontuava as coisas como se tudo encerrasse ali
tal qual um salto cravado de ginasta
embora sempre errante.
A verdade é que o seu ponto marcava o meu dia
chegando lúdico e intenso como um cometa visto de uma praça
e me tocava através das fissuras dessa armadura fajuta.
Pontuava-me como o dia pontua o horário da noite
e a noite, sempre ávida pelo escuro infinito,
saiu a contragosto para dar espaço ao dia
que chegava sem pontos, sem horários e confusamente aberto.
Suspirante, dizia-me silenciosamente que não havia
ponto algum e que a noite poderia chegar a qualquer momento,
talvez bêbada.
As suas vírgulas bonitas paralisavam os meus beijos
Que se transformavam em sorrisos esparsos
e aquela sua interrogação-para-si estancava algo em mim.
Fitava o meu olhar naquele cometa de letras de outrora e que, ontem,
encorpou-se em desejo.
O seu corpo segue a mesma ordem da conjugação das suas palavras
e a afirmação dos seus olhos me fizeram escrever
esse texto incompleto e propositalmente com sabor de ontem.
De quem engoliu, por pressa, os pontos e devolveu-me as vírgulas
todas fora do lugar
Posto que ainda toquei o teu o corpo quase-feito-menino-novo
como se, ainda no jardim da infância, aprendesse a esboçar uma letra ali.
Sou escritor de outras épocas
infantil, incrédulo e firmemente vacilante
descrever-me é impedir que chegue mais
e sei que não chegará
porque encontrei um ponto teu perdido
e coloquei aqui, nesse final.
Lourival de Carvalho
Aquela moça
O vento bate pela janela
temperado a luz do sol,
aquela jovem sorri.
Seu sorriso reflete a beleza que outrora primaveras jamais viram
Doce sorriso!
Jovem moça de cabelos negros e dona do mais belo sorriso dos sertões.
A mais formosa e exuberante flor da primavera sorri aos raios de sol
e encanta ao mais cético viajante com o dom de sorrir!
( Miguel Coutinho Jr.)
Por listras negras e brancas
Roupas, que apenas, delineiam seu corpo num "quê" indescritível
Saceiam desejos pecaminosos contrastados no íntimo desejo de, apenas, amar
Transcendendo o físico.
Indo além da alma.
Subvertendo fronteiras
E seguindo o simples desejo de, apenas, amar.
Olhos claros em meio uma batida "punk rock"
Fixamente olha...
Lindas íris contrastadas por listas negras e brancas
Enfatizadas por cabelos ondulados sobre os ombros!
Não há o que dizer.
Não há o que fazer,
Apenas rebatendo aquele olhar, quase virtual, com um desejo de, apenas, amar...
(Miguel Coutinho Jr.)
Poeta eu?
O poeta escreve a sena,escreve a sina
O poeta escreve a saga,escreve a sede
O poeta escreve o riso,escreve as lágrimas
O poeta escreve as viagens,escreve as paisagens.
O poeta escreve a vida,escreve o presente
O poeta escreve o futuro,escreve o que sente
O poeta escreve o passado,escreve assim e assado
O poeta escreve a felicidade,escreve o amor.
O poeta escreve o tudo,escrever é sua vida
O poeta escreve chorando,escreve no coração
O poeta escreve a fome,escreve a mesa farta do sim
O poeta escreve as grades,escreve no colo da solidão.
O poeta escreve a fé,escreve o que o que acredita o ateu
O poeta escreve o cordeiro,escreve o lobo mal e o bem
O poeta escreve o diabo,escreve a bondade de deus
O poeta escreve o parasita,escreve o simples eremita.
O poeta escreve a tempestade,escreve a mãe natureza
O poeta escreve o pesado fardo,escreve a sua leveza
O poeta escreve a beleza,escreve a meiga feiura
O poeta escreve a sombra,escreve a claridade.
O poeta escreve o calor,escreve o medonho frio
O poeta escreve o perdão,escreve muito obrigado
O poeta escreve a safadeza,escreve o carinhoso respeito
O poeta escreve a saudade,escreve a triste interrogação.
O poeta escreve
Geraldo Sadil
Corpos
Vivos, mortos
Corpos humanos, imundos e puros
Selvagens podados...
Corpos lineares e dignos
Ou talvez irregulares adoráveis
Corpos despidos
Uma delicia de ver e até comer...
Comer o corpo com os dedos ou com os olhos???
Um delicioso questionamento...
Outra opção é se deixar devorar
Por dedos,olhos e bocas
Pois o corpo é desejo de todos
E o que seria de mim e de ti sem desejo?!
Apenas pedaços de carne morta
frios, presos e fracos.
De sangue, fúria e desejo vive o homem!
O pão é dispensável...
Então vamos dilacerar a carne
Sentir o pulsar dos vasos
E também o arrepio da derme
Sejamos profanos e bossais
Deixemos o sentimentalismo de fora
Só por hoje...
Logo porque, corpos apaixonados são lindos
Sutis ,delicados
Até mesmo no entrelace de pernas.
Corpos...
Duros, rígidos e sóbrios
São tão monótonos
Prefiro os quentes
Que nos fazem suar com um único olhar.
Só posso desejar uma coisa:
Que os corpos sejam livre
Plenos e nunca santos
Pois neste dia seremos realmente
Puros.
Yara Silva
Senil
Esta sensação
De gravidade
Nada mais é
Senão a idade
Que chega maliciosa em seu
Tempo de areia movediça
Te puxando pro fundo
De todas as suas premissas.
Qualquer dia, quando notares
Estarás imerso até o pescoço.
Só te sobrarão lembranças
De dentro do teu olhar absorto.
Neste instante, a memória lhe será
Tão cara quanto carne e osso.
Benditos serão os pensamentos
De quando tu eras moço!
Ravenna Scarcela
Mentir . . .
Eu minto, você mente e no final todos mentem.
Mente aquele que diz "odiar mentiras"
Pois a mentira faz parte do ser humano
E o peso da racionalidade...
Mentimos por diversão, por consideração e por tesão...
O ser humano mente até para si
Para ser aceito, acolhido, amado
Os racionais amam se iludir...
A boa parceira de cama é a que finge
O bom garanhão é o que brinca com os sentimentos
Como já dizia o ditado: "É das bandidas que eles gostam mais."
Nada mais romântico do que a mentira de amor...
Que os moralistas cortem os pulsos
E que as beatas arranquem os cabelos
Pois o fim do casamento está na sinceridade do dia a dia!
Os amantes existem para saciar a necessidade de ilusão de uma vida monótona
Um conselho de facínora qualquer:
Minta com cuidado
Pois esta será aquela que levará seu amado ao céu...
Minta com calor e loucura
Jure fidelidade, diga que o seu hálito matinal é esplêndido.
Pois de certa forma mentir é amar com cuidado.
Yara Silva
O amor passou
É como se de repente eu percebesse
que o que eu abri mão um dia
Se tornasse essencial para mim
Para comer, respirar, amar, viver...
Como é desesperadora a incapacidade
de voltar no tempo e reparar os erros...
Reparar qualquer duvida idiota que tive
qualquer minúcia de erro cometido.
O Amor passou... Com o rosto virado talvez.
E eu, desatento, não pude vê-lo, percebe-lo, senti-lo.
Passou talvez me encarando e eu tolo, não o reconheci
naquele rosto de pureza, inocência, mistério...
O Amor passou e eu o perdi
como se perdem todas as chances...
Como se perde a vida!
Tarcisio Bastos
Apenas Mulher
Um animal racional que sente
Talvez este seja o problema...
Sinto os olhares que rasgam minha roupa
As mãos que me sufocam
Até mesmo a sordidez da indiferença humana...
Certo dia me fiz mulher, Pintei a cara ,penteei os cabelos e sorri.
De repente, um ser desprezível me olha, me analisa e intimida
Este seria talvez um futuro amor, mas na realidade meu algoz.
Aquele homem , puxou meus cabelos e disse
"Tu és apenas uma mulher , um ser que me pertence !"
Naquele instante indigno, em que meu batom ficou borrado
Cabelos desgrenhados e corpo violado pensei:
"Sou apenas uma mulher ! Talvez um pedaço de carne sem valor!"
Depois de lavar meu corpo e lamber minhas feridas
Minha alma gritou: "Eu ainda estou aqui!''
Neste intante percebi, sou apenas uma MULHER
De lutas, sonhos e ternura
De corpo livre e alma viva!
De hoje em diante serei mulher, leoa e flor
Das lutas contra o opressor não irei fugir
Para que meu rosto seja de amor
E nunca mais de dor.
Yara Silva
Soneto sobre um crime
O meu esqueleto traz os indícios
De um crime obsoleto e fugaz,
Que outrora suscitou suplícios
E exauriu toda a minha paz.
Eu – em um balé romântico;
Tu – felino com sete vidas;
Dei-te um amável cântico,
Retribuíste com idas e vindas.
Saciei os teus anseios de paixão
E entreguei-me aos teus galanteios.
Naufraguei nessa tola ilusão
E findei num universo de receios.
Hoje sobrevivo com a cicatriz
Que fizeste neste arcabouço infeliz.
(Laís Grass Possebon)
ALMA DE UMA CRIANÇA
A alma de uma criança
é branca como a neve
é transparente como a água,
em um copo de cristal bruto.
Tudo quanto se reflete
e ali se inspira
se cristaliza em segundos e não se apaga mais.
Desejei que todas as crianças estivessem a minha volta,
agora e sempre, pois delas é o reino dos céus.
Elas são as chaves.
E aquele que não estiver acompanhado por uma destas crianças não entrará no reino dos céus.
Elas são as chaves...
Autor: Dhiogo José Caetano
Nudez
Em papéis a expressão corporal, espiritual.
O meu avesso.
A minha alma.
Estou desnudo.
Através da escrita a exposição da exteriorização da arte que vive em mim.
Tudo que não cabe na alma é expresso em versos livres.
Explicitamente me coloca a disposição da arte.
Das minhas entranhas, do meu sangue a arte de poematizar a vida.
Tudo pela arte.
Sobre uma plataforma invisível a nudez poética de um aprendiz das letras.
O desejo é liberadamente apresentar as costuras, emendas, remendos, falhas e imperfeições.
Sou um eterno aprendiz... um aprendiz sou!
Autor: Dhiogo José Caetano
Quando o não posso é bem maior que o não devo
E a certeza menor que cansaço
Quando a mente flui n'outros espaços
E medo te faz perder o compasso
É tempo de parar... e respirar
Quando vida parece não está nada fácil
E o futuro te lembra uma grande janela nublada
Quando o passado te cobra uma resposta
E o medo deixa tua coragem largada.
É tempo de parar... e respirar
Talvez a fumaça obstrua tua mente
E a respiração se torne ofegante
Mas talvez nem lembre dos dias descontentes
Porque é tudo uma questão tempo. Perto ou distante.
[Luan Matheus]
Sorveu o néctar dos deuses
Provou da ambrosia mística
Do amor em seu esplendor
A magnífica alegria!
Preso em sua própria agonia
O bicho se assoberbou de amar
Fez pouco do sentimento
Não tardou a se suicidar
Depois do dia do espanto
O animal se viu humano
Ciente dos dissabores
E de todos os desenganos
Fora o amor seu encanto
Seu remédio e seu veneno
Da vida, levou somente a morte
Mas não morreu, ficou pequeno!
Ravenna Scarcela
Esbulho
deixo-te livre com duas correntes no pé
olho com dois graus de miopia
como em duas horas de agonia
amo com dois dedos de pimenta
Yana Moura
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Fora
Corpo que não está,
Esteira de passar tormentos,
Lamentos de uma vida inteira,
Maneira de escorrer as horas.
Senhora à providência de um posto,
Suposto envolvido em contradições.
Prisões com grades em teias,
Veias abertas de sangue rubro.
Cubro o peito que arde em dores,
Amores que se vão no fim de tarde,
Alarde nas ruas de solidão.
Irmão que podia ser, de saídas em bares,
Lugares que nunca fomos, mas iremos,
Seremos um dia livres, quebra correntes.
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
Nas asas de um Louva-a-deus
Cata-ventos roubam sonhos
pelo vento já se foi
um e dois e tantos tempos
despedaços desse fim
Caçam as mais belas cores
no alado risco de borboletas
enquanto meu gosto turvo
se eleva no voo grená
Alcance-me meu louva-a-deus
atira em mim aquilo que a relutância ignora
me banha num sopro bem morninho
um e dois e tantos mansinho
Mosaicado, desconexo,
o inverso na rima dissonante
vento leva e convexo
conclusiva e conflitante
André Café
Além do sonho
Serei abraço e manto
ou qualquer sorriso bobo.
Serei fuga e refúgio
ou qualquer brisa te acariciando o rosto.
Serei a alegria que te aviva a Alma e a doçura te visita os olhos
ou qualquer besteira que beija os lábios um riso.
Serei alarde no silêncio triste, silêncio se paz te falta.
Serei o canto que te encanta os dias e o sol que te amanhece a vida
ou qualquer semente que te nasça flor nas dores.
Seria se um dia fôssemos o que não somos, além do sonho ilustrados numa foto.
Nayara Fernandes
No tempo soo canto de mistério
Jamais serei quando sou.
Soo canto de mistério,
Misturo-me em sons diversos.
Versos mudos, silêncios alardes
Coração pulsante, Alma dispersa.
Quem sou?
Passado?
Presente?
Futuro?
Frustrada.
Menina?
Mulher?
Poeta e suas mil e uma faces.
Quem sabe?
Deus ou o diabo?
Brisa ou a tempestade?
Escuridão ou a claridade?
Veto realidades,
Invento verdades,
Chovo e evaporo.
Sou inércia ao mundo – intemporal ao próprio tempo.
Nayara Fernandes
Pudera eu ser poesia
Pudera eu ser poesia
como o vento, esvaindo-se no tempo.
Semente sendo.
Pudera eu ser poesia
como o tempo, – intento da ciranda sem ritmo certo.
Acertando sempre a música do peito.
Pudera eu ser poesia
me apoderando da sombra com motivo
de sobra para ser refúgio.
Reino dos alívios almáticos.
Pudera eu ser poesia
fogo esquentando o frio
e afeto afagando dentro dores insolúveis.
Pudera eu ser poesia
luz sem sombra devolvendo a leveza
somatória das doçuras muitas.
Quisera eu ser na poesia
o Amor dignificando a Vida,
exaltando a Alma dos amantes – estrelas dos versos eternos.
Nayara Fernandes
A escuridão dos bastidores
O dom de ser poeta é um buraquinho que Deus criou num canto da Alma para esvaziarmo-nos dos males da vida. Luzes, palco e plateia – tudo divinamente belo no teatro dos versos. Não sabem os outros a escuridão dos bastidores. Somos blefes de sentimentos.
Nayara Fernandes
BEIJO NA MÃO
De longe avistei aquela criatura.
Mesmo distante era possível interpretar o teu olhar.
Na face uma expressão suave.
Telepaticamente nos comunicava.
A sua alma saltava do corpo físico.
Com clareza eu via a clarividência da sua áurea.
Diante de mim um ser inesquecível.
Inesperadamente a criatura beijou a minha mão.
Um beijo que fico registrado na minha alma.
Autor: Dhiogo José Caetano
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