sexta-feira, 22 de julho de 2011

Onde encontro uma garrafa?


Escrevi uma carta com remetente e destinatário igual. Não foi um equívoco, fiz de propósito. Escrevi uma carta pra que eu possa ler no futuro. Como será que vou estar quando tocar essa folha de papel antigo? Meus sonhos estarão realizados? Ou terei mudado eles de lugar.
Não sei se quero resposta pra essa carta. Talvez minhas convicções tenham mudado, meus planos também. E se eu não tiver planos? Eu escrevi falando a mim e aos meus amigos. No futuro, meus amigos serão os mesmos? E os outros que ainda estão por vir, ficaram ressentidos por eu não ter os citados nessa expectativa?
Serei o ser mais paciente em meio aos impacientes. Esperando chegar o momento certo para colocar minhas mãos ansiosas nessa carta e ver o que eu pensava do meu futuro. Já estou ansiosa. Quero saber o que vou pensar quando ler minhas próprias palavras, vou ter esquecido alguma coisa? Possibilidade com ânsia. Quem vai guardar minha carta? Serei furacão ou chuvisco.
Eu vou gostar de viver no próximo tempo? Neste já praticamente não nos olhamos nos olhos, nos tornamos tão egoístas, não nos importamos com o que não nos diz respeito. E depois? E no tempo da minha carta? Não quero a sensação de esticar os segundos, às vezes a vontade é de estar em outro lugar. Minha carta encontraria meu novo endereço? Aqui não tenho mar, mas preciso de uma garrafa. Não posso correr risco, preciso encontrar essa carta, saber se ainda vou me emocionar com as mesmas coisas, se ainda vou lutar pelas mesmas coisas.
E de repente, como mágica ou não, pura realidade. Fui acordando dos meus pensamentos, buscando a garrafa e as palavras que dentro dela estavam. O próximo passo é meu.

(Isadora Carvalho)

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