Perco tempo com versos que o tempo perde. Como escrever obras imortais , se não sou célebre? Como responder se ninguém me interroga? Tenho inimigos, logo sou conhecido. E pior ainda, inimigos que estão em mim. Quem ainda está vivo, sabe que nunca deve-se dizer nunca.
Eu deixei meu coração em tuas mãos
e isso não se faz.
Eu estraguei minha juventude
em noites vazias, cheias de agonia
e sonhos delirantes.
Eu bebi todo o mar
na esperança de aproximar os continentes,
fui devorado pelos percevejos
enquanto fugia dos tubarões.
Desafiei os deuses pagãos
que foram os primeiros cristãos convertidos
resmunguei canções populares
e blasfemei orações nas calçadas
fazendo o sinal da cruz.
Convivi com sugadores de sangue
e falsificadores de idéias
que usavam máscaras douradas
da razão pura, para enganar trabalhadores.
De muito ler, os olhos cansam
não fiz economias para os piores dias
e a guerra é demasiado cara
Mas a América não se importa
se há crianças em minas de carvão
atrofiando sua musculatura
o belo tempo da infância não dura.
E definitivamente, não é com bombas
Que uma menina cresce.
Raíssa Cagliari; 30/04
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