quinta-feira, 10 de maio de 2012

Parcelas Suspensas no mundo do Ar - Malabares na esquina do céu



Meu corpo queima por dentro
no calor, eu paría o carnaval
ainda com a ressaca de natal
dormia na porta da igreja
recitava versos da revista veja
estendia a mão por uma migalha
sou jumento sem cangalha
mais um verso ou dois eu sei
sementes nos lugares, plantei
afeto, amor e cajuína
mordo o terço, volto pra Teresina
o lugar onde comecei

Fiz rabeca de lata de manteiga
era mais dificil que sobreviver
pouco pão tinha pra comer
pirão, espinhaço e malagueta
via uma gota branca na preta
nessa gota fui campeão de nado
com juntas e o corpo todo grudado
no cruzamento dos céus fui malabares
fiz versos girando nos ares
com afeto, amor e cajuina
no céu azul de teresina
pintei quilombo dos palmares

No quilombo comi feijoada
todo dia tinha resto de feijão
historias de pexeira, mato, e baião
foi quando eu cantei latada
chamei o galo da madrugada
que pro recife tinha mudado
com um bloco andava ocupado
no carnaval revolução foi pauta
cavalo marinho, frevo e maracatu
'vem pra eu dançar mais tu'
gritou em uma carta em voz alta
com afeto, amor e cajuina
disse: 'vem correndo de teresina
na folia voce sempre faz falta'.

Não fui porque tava liso
a cotação do dolar tava em alta
na minha terra de verso não faz falta
planto quando não tem semente
colho expressões dessa gente
suas falas de vel e de grilhões
recarrego pistolas e canhões
com doces, alegria e paz
disparo pra frente e pra tras
nos lados e ate na minha cara
quando o verso no tambor pára
com o dedo boto pra girar
com afeto, amor cajuina
descarrego no povo de teresina
particulas dos versos suspensos no ar

Com versos fiz mingal
matei a fome do povo
com pena e bico, asa de corvo
fiz suco e sobremesa
não tirei Lord Byron da cabeça
quando estava de barriga cheia
um forró meus versos clareia
de Lord Byron ficou o caveirão
tres ou quatro versos em minha mão
contra o mal e as coisas tristes
das penitencias que no mundo existe
que vou descarregar do pente
porque so quero pra minha gente
afeto, amor e cajuina
muita paz pro povo de teresina
viola, forró e repente

(MarcoFoyce)

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