Descansam as cordas enquanto os corpos se tateiam em uma sincronia quase ensaiada, de gestos espontâneos, impulsivos, conversando em pele enquanto os pelos se eriçam em gritos de satisfação.
Não foi preciso pronunciar uma única palavra e, ainda assim, um diálogo extenso. Intenso.
(Mayara Valença)
DA ANCESTRAL FALA
ResponderExcluirNa dança dos sentidos
E dos corpos e das almas
Não se fala
A língua cala,
Quando os corpos dançam,
E as almas sentem.
Na linguagem ancestral
E táctil da pele
É que se lêem,
Os mudos olhos que se fitam
E os lábios semoventes
Que, sem som, se entendem.
E, no mover cadenciado
Que dos corpos,
E das almas,
Quer se dar,
Um cadente murmurar
De pétalas orvalhadas
Desfolhadas
Sob o bater do galho
Em seus açoites
Faz que chova em flor,
E fertiliza,
Pela força
Desses ventos
Imperiosos,
De par em par.
E se sucede,
Em meio a sons,
Tão ancestrais
Quanto o vagir
Do nascituro,
O mais desejado
E benfazejo
Silêncio.
E a solidão
– Seu triste pouso –
Já não é mais
Que um lugar onde,
Outrora, habitaram duas
Consciências separadas
Que num só,
No mesmo sol-lugar,
[Qual se uma só e já sem nós],
Hoje, planam,
Asas estrelaçadas,
Vôo cadenciado,
A entoar o verbo atemporal
Do infinito;
Restando apenas
Um hiato de lábios entreabertos
No abismo que há
Entre o medo, a maravilha
E o êxtase.
Francisco de Sousa Vieira Filho