Era certamente noite de delírio
em Cocytus,
Divisávamos a lua terrestre,
verticalizada e brilhante
Irradiando protestos que os
mundos silenciavam.
- Sente o vento da noite, convidado? Nem
responda. Essas nuvens ocultam estrelas, e não permitem distinguir o peso da
vida e o cheiro da morte.
- É seguro andar por essas escadas, Sócrates?
- Talvez, se a queda não lhe seja
inconsequência.
- Arranca essa dor do meu peito, é o que
dizem?
- É o que pretendem, na presença dele, embora
saibam que não vai haver, diáfano e onipotente, sujeito plural que arranque as
veias que pulsam dores, horrores e festas no crepúsculo.
- Dobro a aposta, porque acredito que vou
quebrar a banca sem susto.
- Pobres que somos, aguardamos, imobilizados
pelo lance que se projeta, longo e tenaz jogo de azares, lances de dados
imprevisíveis. Aceita mais um trago?
-Chame quem você quiser! Que o fogo consome,
absorto, a palma dessa mão vencedora.
- Acredita no triunfo? Vozes denunciam, à
socapa, que o sucesso não é caminho disposto a prosperar...
E assim, no alto da cobertura de
um castelo tosco em ruínas, jogavam cartas, jogavam dados e lamentações.
No meio do contrassenso da
linguagem, perdidos e sem noção de espaço-tempo, lançavam suas preces pelos devaneios
inalcançáveis.
Sócrates jogando Poker em Cocytus
com Satan e Duque de Copas em Cocytus, arriscando e deslocado
Nenhum comentário:
Postar um comentário