segunda-feira, 18 de novembro de 2013
Amor subterrâneo
Encontrei-me perdido em uma tarde, sentado em algum desses cafés burguês da zona leste da cidade, apreciando a pobreza e o vazio dessa gente hipócrita, meditei. Enquanto isso, bebericava meu vermute, em súbito, flagrava-me rindo as alturas, diante da solidão em branco, foi quando então vi alguém chamar meu nome. Virei-me e dei com os olhos em Fabrício, frisei a vista, para então poder ter certeza daquela aparição inusitada. Cumprimente-o com um forte abraço e longo também. Há quanto tempo não o via, aqueles olhos verdes, pareciam ser a visão que nunca mais teria em vida, mas fui contemplado com tal graça plena. Nem acreditava naquele vão encontro. Tínhamos sidos grandes amigos na adolescência, compartilhávamos gostos estranhos e grotescos. Anos a fio e ele ali, diante dos meus olhos, como era bom tê-lo de volta. Mas havia uma angústia em seus olhos, uma angústia que gritava em agonia. O que havia ali, que gritava por socorro? Indaguei-o sobre tal tormento. Ele que quase em sussurro falou: “Aqui não”. Compreendi de imediato que a nossa conversa tinha de ser em particular, em um acordo sonoro entre a minha voz e a dele. Fugimos dali. Passeávamos de carro, por aquela avenida com nome de santo. Senti o peso entre o silêncio de nós dois, ainda sim continuei calado. Conduzi o veículo até o destino final. O chofer levou o carro embora. Ao entrarmos no elevador, vi que suas mãos estavam suadas. Parecia um sufoco, nosso silêncio nos deixava em asfixia. Estávamos então na cobertura daquele hotel de burgos, a vista era esplêndida, a avenida frei serafim fazia então alusão ao corpo humano, ela era então a veia e nela circulava os carros e seus faróis vermelhos, era tão automático aquele fluxo contínuo. Foi quando assustei-me ao ver Fabrício, seus olhos era lágrimas que percorria toda a sua pele e desaguava aflita. Hesitei ao querer tocar seu rosto, ainda sim o fiz. Minha mão era então navalha, ele sangrava por dentro, meu carinho era um corte lento, sem cicatriz. Sua voz me saiu como melodia, eu já distante de tudo o que houvera conduzi sua mão ao desejo mortal. Ele disse que me amava na língua húngara e aceitou o convite. Diante de nós havia um mundo, um abismo sem freio, ao qual nos atiramos. Fez-se dois corpos, uma só alma. Tudo parou, o trânsito, a veia e só!
Ítalo Lima (04/11/13)
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