segunda-feira, 18 de novembro de 2013
Do casamento orquestrado pela cigarra
A cigarra repousava ali perto da porteira
e, quando escutou as luzes dos olhos deles,
lançou uma flecha sonora que cortou a ida do dia.
E percebi o olhar da menina que tropeçava entre as belezas
Ela caminhava sobre os seus próprios sorrisos.
Percebi, de longe, que atrapalhou-se no próprio vestido
Mas a música de entrada era de novela e reabriu a praia
Envergonhando o mágico por ter a sua mágica descoberta ali
Vimos um mar sobre os pés deles dois.
As fotografias estavam penduradas por prendedores que apertaram
Os meus olhos pelos olhos encontrados deles
E que ficaram por ali perdidos, paralisados
Pelas belezas, pela elegância, pelo casamento sitiado
Estivemos no estado de exceção
Decretado pelo amor mais que bonito e de uma urgência
saltitante que dificilmente se pode achar
Torno a dizer que ali todos nós casamos
Mergulhamos profundamente nos dois
Fechamos os olhos e vimos aquelas luzes piscando sobre o universo
Desconhecido, apaixonado e seguro dos novos rumos
O banquinho abarcava os dois corpos protagonistas
Que melodiaram a nossa imaginação
E nos trouxeram sonhos de longe
Que me fez cantar, e cantei
Sempre quis ser cantor
E fui cantor ali
Cantei junto à cigarra que cortou a hora
Que celebrou a chegada de algo
Enquanto todos silenciaram
De olhos fechados, ficamos apenas
Eu e a cigarra
Que, de tão ousada, cantou sozinha
Forte, intensa e misteriosa
A cigarra encerrou a noite.
Ninguém percebeu.
Apenas eu, o cantor imaginário dali,
E os inúmeros suspiros que implodiu cigarras por todos os lados.
(Lourival de Carvalho)
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