quinta-feira, 14 de junho de 2012

Cocytus: o primeiro momento do diálogo diabólico

O mapa do Inferno de Dante - Boticcelli

Um quarto de século entre silêncio e observação
o frio monótono de Cocytus não se sentia mais
dissabor perdido do chá de coca e gengibre
e a suspeita suspensa de qualquer horizonte
o mudo quebrado por razão desconhecida:

- Saudações nobre pensador! Depois de turva, assistemática e prazerosa visita por estas terras tão normais, enfim encontro o destino a que me imputei. Obrigado pelo convite.

- Saudações Duque. O destino num momento sem tempo e espaço fora generoso e propiciou esse encontro até mesmo cedo. E diante de minha visita convido-o para apreciar o chá.

- Antevi-me e já degusto olor e sabor da coca e do gengibre nobre pensador. Não te apetece mais a cicuta?

- Se percebes este patrimônio como solo rico, não compreenderás minha conduta a me deslocar e fixar moradia em Cocytus.

- Hum ... a sua revelia é teu caminho encontrado? Esta é tua Cicuta?

- De início, o fim nunca pareceu-me justo, mas a humanidade, deveras pomposa, não percebe os descaminhos. O rumo da Cicuta fora impedido de certa forma pelo convite de Satan. Tentou logicamente, seduzir-me, como bem faz com almas fracas. Diante da possibilidade em vida, vim para cá, fazendo daqui minha Cicuta. Mas a realidade tão cinza e por vezes amêna, em relação a Terra, não corroborou com minha vontade.

- Isso implica na sua condição humana reverberando viva no seu peito? É disto que me fala?

- Creio que não. Mas não com certeza. Dó, pena, angústia: futilidades. Mas o descaminho tem pedaços já andados; poderia alguns refazê-los.

- Reside esperança então pensador? Deteriora minhas expectativas infelizmente. Eis que aqui chego e vejo desumano humanizado. Isso é digno de escárnio.

- O pensar num descaminho do descaminho não é ter esperança. Poderia eu estar no fronte, mas me matenho aqui, inerte e inerente. Falo da condição humana de raciocínio. Não que torço por isso.

- O nobre pensador demonstra não contradições, mas oscilações. Por que?

- O convite de sobressalto ao nobre duque transfigurou um pouco a realidade, acometendo até mesmo Satan de ciúmes. Vossa presença está em mim ainda como um enigma indecifrável, sobretudo sua sede de snague.

- Não nobre pensador, não possuo o tino vampiresco. O súbito alegrar ao 'carinificismo' nada mais é do que compreender o destino indubitável de quem caminha para a carnificina. Mesmo pensadores altivos com suas razões mirabolantes impraticáveis nas próprias rotinas. O que me anima é isso.

- O ser humano e o estado natural. No que acha que te diferencias deles então?

- Não faço questão de não ser humano ou qualquer coisa nobre pensador. A raça humana é que não faz questão de mim. E eu também não o faço. E toda essa desconexão também me alegra. Julgar-me-ás?

- Não é esta minha intenção Duque. O brilho algoz do seu olhar não te enquadra no natural entedido do homem. Esse é teu objetivo afinal?

- Estamos seguindo para um entendimento nobre pensador!

- Uma pausa  do chá então. É hora do poker. Pelo seu e pelo meu interesse, falaremos de Giudecca, de Aldebaran e de Zion.


Sócrates entre chá de gengibre e coca a beira do caos e Duque de Copas na certeza resoluta de ambiência

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