segunda-feira, 4 de junho de 2012

INSANO


Havia um tom azul naquela tarde que se espreguiçava por entre meus dedos, como um manifesto suave de cores a bailar condensamente pelas entrelinhas dos meus olhos; agora, mergulhados no desequilíbrio dos seus passos a cintilar uma poesia formada por adornos imaginários que cavalgaram da minha mente através do vento, até repousarem solstícios em seus braços.
Talvez fosse apenas a epiderme da sua proteção que ouriçava meus sentimentos ou fora somente o sentir da divindade escorregando por seus lábios de pupila ingênua que ainda aperta as maçãs do rosto para conseguir maquiagem. Doravante, sei que somente mergulhei. E fora em um salto mortal das minhas amarguras, tentando desprender-me loucamente de cada uma delas, para ser o mais leve possível e capaz de ser sustentado por seus dedos frágeis de menina que ainda rabisca versinhos mimosos em folhas de diário. Talvez um mero tolo a acreditar que seria resgatado por suas proezas insanas e intocáveis de menina que brinca com o nascer do sol em seus beijos lançados ao vento, ao tempo, sem cuidado algum. E fora, com toda a certeza, um desses beijos vulgares que por você correu, que alcançou a muralha de proteção lapidada constantemente, dia após dia, sem cansar da minha proteção espessa e densa de amor renegado. Esse sabor angelical, invisível, intocável que despertou os demônios adormecidos em minha alma, até então silenciados pelo medo e repúdio em serem aceitos por tal ser de doce candura a se derreter sob a ação dos raios de sol de um verão mais violento.
Eu bem queria, meu amor, meditar em segredo os poemas que ando a escrever para você, mas soa tão prematuro minhas rimas, que faleço, senhorita, antes mesmo de findar o soneto que carregue nas entranhas seu nome não mais abnegado em mim. Tornei-me, sem colocar em dúbia a minha verdade, um escravo, um lacaio, um lascivo cortês da sua existência que passa por mim como um tornado, arrancando lares ainda habitados por minhas memórias – algumas derradeiras. Libertei-me do laço macabro da esfinge dos seus lábios por desenhá-los entre meus rabiscos poéticos, mantendo-me fiel a sua conjuração de independência – por sorte, não de nós.
Sou um mero ser de existência duvidosa, sem qualquer níquel em meu bolso, mas com o ouro a brotar do meu coração destinado a labutar por você, sendo minerador das suas artimanhas de moça donzela que corteja a si mesma por ser assim tão… tão absurdamente bela.
É insano, muitos dizem, mas se a insanidade se torna uma repetição de determinada ação a qual sabemos o resultado, mas por mera loucura, esperamos algo diferente, então posso gritar ao mundo, entre o jardim das nossas tulipas negras, que sou vertiginosamente apaixonado por você tal como um ser preso em sua órbita gravitacional.
Insano, meu amor, é manter-me assim em palavras quando meu corpo anseia devorar o seu em pecados.

Faah Bastos.

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