sexta-feira, 1 de março de 2013

Eu, perdido na sombra de um outro eu



(Parte I)
Uma tristeza cai em meu coração:
Mais um dia!
Mais um dia, sinto-me só
E ausente de mim mesmo
Por eu me deixar mais só, ainda,
Por viver sonhando.
Típico sonhador soerguidos
Entre nuvens de pensamentos,
Fábulas, sonhos, mitos...
E esta solidão tão amiga,
Tão presente em minha vida
Em quase áspera pena.

(Parte II)
Esta tristeza tempera
Com lágrimas langues
Os meus olhos tão calmos.

Meus pensamentos fluem
Como pulsos involuntários
De minha inflamável moléstia,
E vejo-me tão triste,
Tão triste gênero de vida,
Estereotipo mórbido de existência.

Uma tristeza cai em meu coração,
Na alma, embora, tenha um vívido ardor
Pulsando dentro de mim,
Há, também, uma inquietude que me cala.

(Parte III)

Assombrado coração que se lança
Ao imensurável ocultismo das artes.
Eu, ser rastejante noctívago
Na tríade crônica de meu ser.
Eu: homem, poeta e sua sombra,
Generocida de mim mesmo
Na temporicidade edaz e fugidia!
Eu – parte do passado,
Ente do presente e do que há por vir.

Eu, termo interminante,
Intransferível, mutável por natureza.
A natureza, toda transformação
Individual do ser...

A minha alma enterra
No seu profundo ser,
A lida de um outro ser,
Nela, a dualidade inerente
A toda minha irrisão e enlouquência
De homem e sua sombra.

Necromantes pensares vão além do ser intermediante...
Sonhares, em vão, me assombram
Por quase sua perfeita imitação à vida.

Vivo sem viver a vida!
Filho da carne e sangue!
Decrépito, jazo em meu decadente ser.
Meu coração, inverno completo
Como ilusões que fenecem
Na ruptura obsoleta.

Tenho em mim, iracundo ser
Que fecunda abruptamente
A consternação do amor
Que sinto ao voluptuoso
E lânguido adormecer,
De não querer viver,
Dilacerando todo ébrio engano:
Esta Mundo feito de aparências.

SOMBRAS
(Davys Sousa)

Minha vida não tem sentido.
Só sombras e medos me invadem
Como fantasmas.

A dor no peito que me aflige
Foste, tu, a hesitação de viver
De modo mais mal sofrido.

O amargo parasita da vida,
O sofrer.
Foste a inocência estuprada
Ou abandonada,
Sem mãos, sem pés, sem braços,
Sem luz, apenas, uma sombra
Do que já foi.

Manchei de escuridão
Minha alma, minha fé.
Foste devassa, tu, doce ilusão da vida.

Uma vida sem calor humano,
Desentendida.
Foi a dúvida, companheira
De meus medos.
Como perder a vida
Foi o enterro de minha esperança
Que consumia o ardente sol
De cada manhã.

Foste, tu, uma ilusão de encontrar
Um verdadeiro amor.
Agora, o espírito definha-se em trevas,
Em volúpia e fogo,
Nos bosques dos homens,
Do que só restaram sombras.

Davys Sousa

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