Vamos partir do sentido de dicionário das palavras ética e moral de acordo com Aurélio de Holanda (2001): Ética é o estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana, do ponto de vista do bem e do mal; Conjunto de normas e princípios que norteiam a boa conduta do ser humano e Moral o conjunto de regras de conduta ou hábitos julgados válidos, quer de modo absoluto, quer para grupo ou pessoa determinada.
Então a ética é a “ciência normativa da moral (...) o tratamento teórico em torno da moral e da moralidade (...) ciência geral dos fundamentos da moral, a moral em geral ou os sistemas morais particulares” (Pereira, 1991/2004, p. 30-31) e moral o agrupamento de atividades humanas validas para esses, enquanto ação digna do ser humano. Desta forma, uma conduta ética “seria nada mais do que um comportamento adequado aos costumes vigentes, e enquanto vigentes” (Valls, 1986/2008, p. 10).
Tornando as concepções de ética e moral menos engessadas aos termos de dicionário Valls e Pereira, perpassam inúmeros filósofos/pensadores (Sócrates, Kant, Platão, Aristóteles, Hegel, Kierkegaard, Nietzsche, Sartre, Karl Max, S. Freud) e até mesmo literatos populares como Chico Buarque e Baudelaire. E notam que tais verbetes possuem uma similaridade por provir de uma cultura, possuir uma história, serem criações humanas, digamos até que ideações destes (ideologias), visto que por vezes servem a poucos, são mutáveis, assim como seus criadores, são fluidas e tortas.
Sustentam uma liberdade ilusória, restringe comportamentos por “boas ações”, mas não dizem quem são os senhores e condutores ocultos nestas beneficências. Será o homem humanista? Pode mesmo nossa sociedade e suas normas ser considerada correta? Seremos capazes de não possuirmos dois senhores (Deus e o Dinheiro)? A reflexão é a resposta. Busco um visionário que me dê tal resposta e encontro na literatura alguém que em um período após segunda guerra e inspirado na revoltosa ação-humana-atividade-conduta-comportamento, extermínio de pessoas no fatídico episódio de Hiroxima e Nagasáqui, que escreve:
Para cima cresce a espiral da indústria, para baixo a espiral da fertilidade do solo. Maiores e melhores, mais ricos e mais poderosos e depois, quase de repente, mais e mais famintos (...) – a passagem da fome aos alimentos importados, dos alimentos importados à exploração demográfica e da explosão demográfica de volta à fome outra vez. De novo a fome. A Nova Fome, a Grande Fome, a fome de enormes proletariados industrializados, a fome de habitantes das cidades com dinheiro, com todas as engenhocas imagináveis, a fome que é a causa das guerras totais e as guerras totais que são a causa de mais fome ainda. (Huxley,1949/1987, p. 104-105)
Desta fome que fala Aldous Huxley, isto em 1949, está prescrita a exploração do trabalhador, a falência da organização social pelo desrespeito com o outro, o controle via a mídia-politica-religião-cultura, a valorização do dinheiro, a destruição da natureza, a filantropia fajuta, a opressão e escravidão. É nessa visão pessimista em um mundo ficcional do século XXII que O macaco e a essência profetisa o surgimento de um homem (macaco) rijo e mecanizado, com o corpo e psique controlada, via um sistema totalitário regido por uma religião satânica. Que em essência é uma marionete receosa e repleta de medos, que aniquilou o planeta na missão egocêntrica de progresso cientifico.
Huxley sabidamente em um mundo que ainda não aconteceu, mostra-nos uma possibilidade de interpretação da vigente ética e moral humana, também não da saída para as questões. Porém como seria antiético deixarmos as indagações sem respostas vamos mais a fundo, mergulhemos em nossas mentes individuais que coletivamente se constituem e repensemos os atos e fatos das nossas ações, para que antes de se tornar moralmente aceito, seja amplamente discutido e analisado.
E uma resposta me foi satisfatória, a que consta no rol dos desabafos de Wilhelm Reich (1948/1977):
(...) viverás bem e em paz quando a vida significar para ti mais do que a segurança; o amor mais do que o dinheiro; a tua liberdade mais do que as linhas diretivas do partido ou a opinião pública (...) Existe apenas uma única coisa que vale a pena: viver bem, e alegremente a própria vida” (p. 106-110)
Assim, sem pretensões de ser utópico, o poder escolher com coerência, o conhecer com sagacidade e o ajudar com amor (ternura ou de boa vontade), bem como, o respeito às multiplicidades inter e extra-subjetivas, respaldadas em um caminho de autonomia coerente com os demais sujeitos nos levará se não em direção à ética pelo menos a se aproximar no que idealizamos como tal.
Referências:
Ferreira, A. B. H. (2001). Miniaurélio Século XXI Escolar: o minidicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira
Huxley, A. (1949/1987). O macaco e a essência. 2ª ed. Rio de Janeiro: Globo
Pereira, O. (1991/2004). O que é moral. São Paulo: Brasiliense (Coleção Primeiros Passos: 244)
Reich, W. (1948/1977). Escuta Zé Ninguém. 8ª ed. São Paulo: Livraria Martins Fontes
Valls, A. L. M. (1986/2008). O que é ética. 9ª ed. São Paulo: Brasiliense (Coleção Primeiros Passos: 177)
(Pedro Victor Modesto Batista)
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