Costumava ir ao mercado aos domingos para passar pela banca de verduras da dona Rita, uma senhora de cabelos não claros, mas nada escuros, de pele frágil e sorriso gigante. Experimentava o tomate, mas nunca comprou, porque gastava todo o dinheiro em rúcula. Odiava rúcula, mas achava chique andar com as sacolas cheias daquilo.
Visitava também as laranjas do seu Adamastor. As uvas do seu Leopoldo. As berinjelas da dona Celeste. Mas o que lhe fazia passar horas ali eram as gracinhas do Pitágoras, um senhor tão baixo, mas tão baixo que andava tranquilamente por debaixo das bancas de frutas, verduras e cabeças de alho.
Pitágoras não vendia nadicas. Pitágoras nem sobrenome tinha. Era Pitágoras e pronto. Arrumava um microfone e fazia trocadilhos do tipo “Venha ver o mamão da dona Maria”, “Não esqueça da banana do seu Aroldo”. Assim passava horas, brincando com um e com outro, narrando tudo que acontecia por ali.
- Seu Pitágoras, o senhor ganha quanto para ficar anunciando os produtos e falando essas coisas? - perguntou o que só comprava rúculas.
- Só perguntas.
- Tipo essa minha?
- Tipo essas duas agora.
- Duas?
- Três.
- O senhor é engraçado.
- Você também.
- Não sou eu que venho ao mercado falar no microfone para ganhar perguntas.
- Não sou eu que venho ao mercado comprar somente rúculas.
- Como o senhor sabe?
- Opa, mais uma perguntinha aqui pra mim.
- O senhor gosta mesmo de perguntas?
- Não. E você de rúculas?
- Tem outro microfone?
E o baixinho gritava de lá: “Meu amigo, quem é o dono das verduras?”
E o da rúcula respondia “É claro que é o Seu Nôra!”
(Larissa Andrade)
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