domingo, 2 de janeiro de 2011
TRISTEZA
Em uma tarde nebulosa de fim de mês, o sol aos poucos apaga a lucidez
em plena morbidez, à mesa de um bar, uma tentativa fútil de voltar a pensar
mas é impossível induzir minha mente, nada no ar que nos rodeia, nada se sente
meus ouvidos desligados notam um ruído apenas, intermitente, mas inexpressível, nenhuma sensação amena
outros seres no bar, uma banda a tocar; três garotas ensaiam uma coreografia, acompanhando a música com total magia
três casais de idosos a gargalhar, cheios de emoção
lembranças de uma vida divertida, de muita animação
três amigos saindo do emprego, tendo uma cerveja como sossego
três garotos na 1ª dose a admirar, aquelas três garotas a dançar
três copos vazio na minha mesa e um pensamento vem, o da incerteza
dúvida de viver, por perder o amor; o amor por si mesmo; e vem o rancor
a face contra gélida mesa, que presenciou tantos fatos, tantos atos
se tivesse voz, se tivesse consciência, seria capaz de contar relatos
vidas perdidas, mortes, alegrias das pessoas
mas nada disso me interessava, levava tudo à toa
e na mesa de tráz, três carreiras brancas, três inspiradas, três policiais chegando ...
e lá vinha ela, atenderá meu pedido, minha chance de pedir perdão...
três tiros, três segundos últimos de vida, uma ... três mortos, eram gêmeos, tristeza...
morreu sem dar meu perdão, e então, minha vida fora em vão?
o delegado pergunta e eu mudo as três da madrugada, três segundos, três batimentos...
as três da tarde num hospital, acordo, acéfalo, sem sentido
nada nos jornais, puxa! como é cruel essa vidinha!
minha mulher, meus filhos, há três semanas foram embora
lágrimas são rotina Ah! se fossem felicidade
mas nada mudou, sou mais um na cidade
é a realidade voraz que nos extermina
mas deixa pra lá, tá na hora de trabalhar
(André Café)
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