Mas essa retomada da praça como símbolo de luta por democracia não se restringiu ao Velho Mundo. Não precisamos ir longe: as movimentações do #SosUESPI, mais do que a internet, procuraram as ruas e as praças. Praça da Liberdade(!), Praça Pedro II, foram alguns dos locais em que estudantes, professores e técnicos comprometidos com a educação, se encontraram para unir forças em suas lutas. Pelo Brasil afora, as Marchas da Liberdade, da Maconha e das Vadias, os protestos contra o aumento da passagem de ônibus, em um momento ou outro, se encontravam nas praças, físicas e virtuais. Exigindo, discutindo e construindo Direitos. Nada mais poético do que isso. Direito ao teto, ao pão, à liberdade e, também à poesia.
Já diriam os titãs, a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte. E saída pra qualquer parte, bebida, balé, a vida, como a vida quer. E se estamos sendo privados de comer, de beber, de nos manifestarmos, o que diremos do direito à arte, cultura? Não que os governos sejam os produtores, por excelência, de cultura. Pelo contrário, quem faz cultura é o povo, de diversos jeitos e diversas formas. Ocorre que os governos e as imposições individualistas, mercantilistas e competitivas restringem e cortam, cotidianamente, nossas possibilidades e nossos estímulos para produção cultural.
Entretanto, felizmente, sempre há braços! E dessa forma, ainda que com todo o descaso do poder público com a cultura, pessoas, grupos, fazem arte - da forma mais artesanal possível. Da forma mais sofisticada, sem forma alguma, ou de todas as formas – independentemente, autonomamente, produzindo e dando o exemplo e o convite. E mais uma vez não precisamos ir muito longe. Basta nos lembrarmos, novamente, da Praça Pedro II, aqui,
A Sociedade dos Poetas por Vir, grupo sem estatutos, sem leis, sem restrições, aberto, realizou o I Sarau dos Poetas Porvir naquela praça. Sem intencionar lucro, auto-promoção, ou qualquer outro motivo que não fosse a socialização e a produção coletiva de cultura, o Sarau foi divulgado apenas de boca-a-boca (e tecla-a-tecla, principalmente) e foi interessantíssimo.
Mesclando música e poesia, as pessoas, voluntariamente, levavam, liam e declamavam seus escritos, ou de outros . Alguns até faziam poesia ali, na hora. Parabéns a todos que construíram esse espaço. A cultura se faz assim, sem precisar esperar por governo, patrocínio, ou ingressos vendidos. Importante, claro, que todos sejam valorizados, financeiramente, mas quando o financiamento vira objetivo principal, não se faz mais cultura e sim, mercadorias.
Por fim, essa postagem é pra reconhecer e registrar a esperança de que muitos saraus estejam por vir. E que todas as praças sejam locais de encontro, pra lutarmos não só pelo pão, mas pela poesia - já dizia aquele revolucionário.
E pra terminar, uma poesia de Castro Alves, poeta que lutou pela liberdade (nada mais significativo), cujo nome também batizou uma praça em Salvador, Bahia – praça essa, palco de várias manifestações.
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