segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
OS DIAS EM QUE MORRO DENTRO DE MIM MESMA
Espaços. Dentro do coração.
Espaços dentro da alma, que desenham ausências nas mãos.
Espaços em que grito e me silencio.
Abarco as injustiças, os medos, as demências, os teus sonhos
e os meus. Num abraço mudo.
Fendas. Que rompem as tapeçarias com que vesti
as paredes da casa. Da mente. Das palavras.
Eu ainda sou tão eu.
Num quarto, numa casa, num momento pálido.
E por vezes o vermelho atravessa o tempo.
Alcança-me. Poderoso. O destino é medíocre
e eu talvez possa ser feliz dentro da mediocridade
de um país falido, de uma moralidade negada, de um coração
roto por dentro. Espaços.
Espaços em que consigo ser eu.
Espaços em que o amanhã é agora.
Espaços. Rasgões. Vislumbres. Lágrimas. Risadas.
Sentimentos. Eu ainda sei sentir.
A morte tão perto e tão longe. Ainda não. Ainda não ganhei o direito de cair numa queda eterna e maternal.
A morte a espaços.
Os dias em que morro dentro de mim mesma.
(Deyne Caroline)
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