CONSULTA MÉDICA
Waldélia nos recepciona com um leve mexer do pescoço e cabeça, agitando os longos cachos castanhos de cabelo. Prestativa, ouve a pergunta atenta, solicita os documentos e requisição do paciente e avisa:
- O dr. Jerebebel só começa a atender às 16h; aqui já está marcado, se você tiver algum compromisso ou negócio pra resolver no centro pode ir que dá tempo voltar antes da consulta.
Pensei mentalmente o que ainda teria de resolver naquele meio tempo, pois ainda eram 14h no relógio do celular. Lembrei exatamente que tinha um relógio de pulso pra colocar bateria nova e um presentinho para comprar p’ras festas natalinas familiares. Pegando e observando o interior da carteira descobri que o relógio sim, teria como pagar-lhe a bateria nova; quanto ao presentinho não, este teria de ficar para outra ocasião.
Andei um pouco, flertei com algumas promoções de vitrine de loja, até chegar à joalheria. O endireitamento do relógio fora rápido, nem deu tempo sequer de entrar em fila: além da bateria ele ganhou uma limpeza no mostrador e na pulseira, tudo por conta da casa. Lanchei um pastelão de carne moída com verduras ali na lanchonete do lado por um preço razoável. Ao passar próximo à praça Rio Branco não pude deixar de notar a badalada do antigo relógio totem: me restava apenas uma hora!
Queria saber ainda do preço de umas coisas no comércio antes da consulta ao médico; vestuário, calçados, utilidades para o lar principalmente. Só deu pra pegar e anotar o preço da lavadora de roupas, do forno elétrico e do terno preto. Só.
Voltando ao hospital, chequei e ainda faltavam uns cinco minutos; por sorte chegara a tempo de ir ao banheiro e beber um copo d’água mineral no bebedouro. Estava cansado de tanto caminhar no velho centro.
- Waldélia, quantos ainda antes de chegar minha vez?
- Apenas três e um paciente prioridade, viu sr. Joe?
- Oquei, fazer o que não é? (sorriso amarelo)
Desviei a vista para o birô da atendente-secretária do outro lado: ignorando um pouco os sons do ambiente eu a via bailar com destreza e harmonia de uma sala de consultório para seu birô, dançando no vaivém de papéis, telefonemas, mensagens de computador e encaminhamentos. Tão perita na arte de dançar conforme a rotina que nem se dá conta da plástica e mística de seus movimentos! A farda de modo algum lhe retirava o brilho; antes, acentuava-o.
- Sr. Joe Sousilva; depois da sra. Laurência, ouviu?
Assim que a velhinha retirou-se, adentrei no consultório; dr. Jerebebel concentrado e sério como de costume; após visar os exames, pediu que me deitasse no leito e observou:
- Está curado; apenas uma pequeníssima sequela quase imperceptível: cicatrização concluída.
- Obrigado por tudo doutor! Espero vê-lo apenas socialmente, agora; se Deus quiser!
- De nada, boa tarde. É só não fazer extravagâncias e se cuidar bem daqui por diante.
(João Paulo Santos Mourão/ dezembro de 2011)
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