quarta-feira, 4 de abril de 2012

Excita-me



Excita-me essa sua predisposição em conhecer minha intimidade; roçar sua barba em minha pele, criando figuras imaginárias de bichinhos felizes a saltitar pelos meus seios, deslizando nas curvas da minha barriga que sempre se arrepia com seu suspirar tão próximo ao meu cobertor epitelial; sussurrar histórias da sua infância, enquanto se estica por inteiro em nossa cama, deixando os raios do amanhecer desvendar segredos em seu corpo, em seus cabelos negros como a noite anterior, cheio de ondas que encaracolo a ponta dos meus dedos quando preciso de um pouco de paz. Excita-me mais ainda quando ficas em silêncio e me come por inteira com seu olhar, decifrando os meus mistérios – ou sendo um bom fingidor –, atiçando a minha curiosidade sobre seus pensamentos, ou me prendendo em suas teorias de conspiração, por achar que Deus se diverte com nossos tropeços premeditados, ou quando choramos por um amor que ainda florescerá.
Reviro-me em seus olhos quando expelem aquele brilho de quem acaba de descobrir uma nova equação que mudará o mundo, que destruirá a maldade ou apenas fará uma bomba que ficará no papel. Ou quando se espreguiça no sofá olhando para a televisão sem nada enxergar, porque sua mente vaga, silenciosamente, em nosso mundo, buscando respostas para um futuro que nos assusta, mesmo sabendo que por questão de saúde precisamos continuar juntos.
O que mais me excita em você talvez não seja apenas seu cheiro quando chega da rua, e mesmo suado ainda exala um perfume que me aprisiona, desequilibra meus pés na corda bamba e me lança para um mundo desconhecido, mas talvez o sabor dos seus beijos que sempre recolhem a minha sanidade, e me deixa solta, em queda livre, no penhasco do desconhecido, mesmo sabendo que o chão é seu corpo. Excita-me correr minhas unhas, muitas delas com o esmalte desgastado, por suas costas, arrancando um pedacinho do seu DNA e guardando comigo, ou esfregando meu corpo inteiro ao seu enquanto compartilhamos uma ducha, permitindo que a água ocupe os minúsculos espaços entre nossos corpos que anseiam mais outras longas horas de amor, da sua respiração em meu ouvido, gemendo palavras que misturam amor e tesão, criando uma cápsula de separação do mundo, nos permitindo ser somente selvagens amantes apaixonados e românticos – e ai de quem dizer o contrário.
Excita-me, sem prolongamentos, essa forma de dizer que me ama todos os dias, muitas vezes sem precisar abrir a boca, separar os lábios, somente me olhando, correndo sua energia pelo meu corpo, despertando os Universos internos do meu ser, saciando meus batimentos cardíacos que enlouquecem todas as vezes que nos aproximamos, mesmo assim, casados em alma, em corpo, em lágrima, em amor. Excita-me de bom grado ser somente sua e poder compor poesia em silêncio, rabiscando folhas em branco, que anseiam insanamente a presença do seu nome. Excita-me, na certa, ser a parte diária em sua vida – e com certeza isso me basta.

Faah Bastos

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