Sobre crescer II
Todos felizes e cantando, pessoas perfeitas iguais e diferentes a sua forma. Juntos de mim. Eu rodeada de todos. E só, era como me sentia. Me despedi de meus amigos com um sorriso. Que no momento seguinte se tornava um rosto triste e envelhecido. A beira das lágrimas. E sempre com aquele amigo à te observar. Aquele que sabe que algo não está bem. E você fingindo descaradamente.
Sorrisos.
Roupas.
Maquiagem.
Sapatos. Tudo máscaras e armaduras que usamos para fingir e esconder seja lá o que estamos sentindo. Armaduras do dia a dia.
Esperava meu ônibus. Tinha um conhecido lá, cumprimentei como manda a etiqueta. Mas na verdade não queria falar com ninguém. Rapidamente seu ônibus chegou. Era o mesmo meu. Mas deixei passar. Não queria companhia. Queria ficar só.
Comprei cigarros para quando chegasse em casa me entregasse a depressão. O chocolate faria o complemento, seria a cereja do bolo, para aquela cena típica de filme água com açúcar da garota no fundo do poço. Só faltou o sorvete.
Meu ônibus chegou. Havia uma família no fundo do ônibus junto comigo. Perceptivelmente modesta, muitas crianças, roupas simples, cabelos mal-cuidados. Um dos pequenos vinha com um guaraná na mão, e motava-se que aquilo lhe bastava. Todos simples e claramente com pouco dinheiro, mas todos felizes. Sorrisos sinceros e abertos. Sorrisos já amarelados e falhos pela falta de um tratamento dentário que, ao contrário de mim, eles não tiveram oportunidade de desfrutar. A mulher derrubou água em todos com o solavanco do trânsito e todos se riam disso.
E eu ali querendo chorar.
Eles com tão pouco. Eu com tudo. Casa, roupas, comida, estudos, pessoas maravilhosas ao meu lado. Mas ainda assim, me sentindo triste. Uma tristeza que nunca vou saber de onde vem. Sendo incapaz de sorrir verdadeiramente.
Ficava me perguntando o porquê de tudo aquilo, e não achava respostas. Só mais perguntas. Mesmo rodeada por todos e tantos, me sentia só e alheia aquilo tudo.
Lágrimas nos olhos.
Mas porque chorar? Me perguntava incessantemente e não tinha uma sombra de resposta. Não tinha motivos. Estava tudo perfeito, em ordem, em simetria. Trabalho, escola, amigos, tudo ok. Mas mesmo assim. Não me sentia verdadeiramente ali na maioria do tempo. Poucos eram o momentos que realmente me preenchia de mundo e me sentia plena e feliz com deveria ser.
Vinha pensando em tantas coisas. E ao mesmo tempo em nada. Era só uma avalanche de coisas desconexas. A principal coisa era, chorar ou não chorar. E ia adiando a decisão pelo simples fato de não saber o motivo para chorar. Era só uma vontade inexplicável.
Ficava observando as pessoas que vinham no ônibus. Pais, mães, trabalhadores, estudantes. Só para passar o tempo e me concentrar em algo que não fosse eu mesma. Chegou minha hora de descer. Minha vontade era rodar eternamente naquela rota e me perder em algum lugar. Minha vontade era sair correndo desesperadamente para um lugar desconhecido. Mas fiz apenas pegar meu caminho. Lancei um último olhar para a família. O casal se abraçava e se acariciava de uma forma tão simples tão sem pudores, só amor.
Desci. Ruas. Pessoas. Um bêbado e sua bicicleta, sendo equilibrista. Igrejas. Casas. Árvores. E escadas e mais escadas. Lágrimas. Forçadas por não ter mais forças para nada. Cigarros seguidos e finitos que não me traziam conforto. Apenas faziam o tempo passar.
Como posso estar rodeada de pessoas e ainda assim me sentir só. Ter tudo e sentir que na verdade não tenho nada. As vezes era mais simples estar no seu mundo fantasioso de amores, perfeição e castelos, do que tentar sobreviver no caos que se criou a sua volta. Fantasias maleáveis, modificáveis se algo incomodasse. Se algo desse errado era só criar outro mundo. Na realidade de osso, isso não me é possível.
Não sei mais o que querer ou fazer. Ninguém pode fazer nada por mim. Posso apenas viver e tentar saber o que é isso. Esperar que tudo passe.
E espero que passe.
(Doda Pereira 15/04/2012)
Nenhum comentário:
Postar um comentário