quarta-feira, 9 de maio de 2012

MÁ-sturbação é de deus








Querido diário:
Recorro a você porque esse é mais um dos escritos proibidos.

Ontem me ocorreu ligar a TV e, pode parecer estranho, mas fiquei diante dela um bom tempo, bem mais do que eu deveria ficar. Era já o silêncio da madrugada.
Permaneci lá, sentada, mudando de canal abruptamente sem que nada ousasse a manter minha atenção por pelo menos 30 segundos. Um troca-troca sem fim.
Nesse correr os olhos, meu dedo descolou do controle por um instante a mais e fiquei com receio. Fiquei com receio porque o que vi não me era habitual, nunca havia visto – senti-me com medo de estar olhando -, eu não poderia assistir. Era pecado.
Você já deve até saber o que eu vi, por isso eu não sei se eu preciso falar, parece-me que a verbalização causa-me ainda mais arrependimento. Sinto-me a pecadora em série. Uma vadia, uma mulher da vida como dizem nos domingos quando vou à igreja.

Sinto-me assim porque não desliguei o aparelho e, deste modo, mais uma vez eu fingi não-saber o que era para ter a desculpa de assistir ainda mais. Fingi desconhecer o que vi da mesma forma como quando eu tentei me enganar ao cometer o meu primeiro pecado. É que Deus não precisa saber que eu sei que é pecado. Como poderia me condenar por algo que nunca disse? Assim, coloco-me como desentendida para comê-los inocentemente inúmeras vezes.
Mas falando miudinho: eu não consigo entender porque não falam acerca essa coisa que eu faço às vezes. Eu nunca, se quer, jamais, ouvi falar sobre. Não sei nem como é o nome, mas - mesmo assim- sinto que não posso falar porque nunca li e nunca nem me compartilharam algo do tipo. Será que eu não vou pro céu? É estranho, porque é uma sensação que nunca tive antes.

Enformiga-me dos pés à altura do umbigo, acaba logo e sinto que peco.

Então, rezo algumas orações fazendo-me pensar que devo estar com alguma doença e que vai passar logo.
Mas nunca passa...

Às vezes escorrego minhas mãos lá embaixo e finjo que elas caíram sozinhas.


Fico feliz ao conversar com você por não haver julgamentos. Ao escrever, rezo baixinho pra Deus não ouvir e para afirmar ainda mais a minha ingenuidade. Talvez ele acredite.


Obs: a natureza é mesmo linda, não é?

Obs2: será que há algo de errado comigo?

Obs3: espero que nunca ninguém encontre esses escritos proibidos.

Obs4: espero que deus não saiba ler.


Tassi

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