quarta-feira, 4 de abril de 2012

Esperando e escrevendo. Escrevendo e esperando.

--- CINQUENTA E SEIS!! Chama o carinha do guichê.
E nada...
--- CINQUENTA E SEIS!! Ele insiste.
Eu aperreada: --- Cadê o deabo do CINQUENTA E SEIS....!??!
--- CINQUENTA E SEIS!! Ele repete aguniado.
E essa joça de mostrar os números quebrou foi!?!? Já num basta a zuada que ta aqui ele tem que ficar gritando agora!
--- CINQUENTA E SEIS!!! Diz já sem forças.
E a moleca, ao meu lado, de cabelo tingido de um vermelho falso, fala ao telefone com seu sorriso de metal na maior da alturas.
--- QUÊ MÃE!?!? To entendendo nada!!
E passa número nos outros guichês, e passa gente, e passa mãe com filho, e filho com mãe... Só não passa o filho da mãe do...
--- CINQUENTA E SEEEEEIS!!
E espera.
--- Me empresta a caneta por favor...?! Diz a estudante magricela.
(...)
(...)
(...)
Pausa dramática sem escrever, por conta da estudante magricela.
E fico eu, a escutar o "plim-plim" dos números que antecedem o meu.
--- CINQUENTA E SETEEEE! O cara desiste toca pra frente.
Já o meu guichê, pra mim que não anda nunca.
E o povo conversa....
--- Meu deus! A gente num vai ser atendida nunca!
--- Muler tu acredita que ainda tenho que ir no banco....!?
--- O Zé Neto não vai chegar a tempo....
O danado do telefone toca, mas na muvuca que é minha bolsa, falto num achar.
--- CINQUENTA E SETE!!
E toca alto. Pra mim que todo mundo ta olhando. Qual nada! Todos concentrados em sua própria desordem mental.
--- Michelle, isso tudo de gente é pra recadastrar...?! Pois boa sorte! Eu ainda tenho que ir no Paraíba. Me liga no meu TIM, tchau.
--- CINQUENTA E SETEEEE!!
Preferiria eu, ir no Paraíba do quê ta sentada aqui, olhando pro tempo, esperando um número distante, e escrevendo isso aqui.
Mas pelo menos esvaziou mais, tem até cadeira vaga!
--- CINQUENTA E SETE!
Até que viro para trás. Mais vago...?! Que nada, enquanto eu divagava no ócio criativo, o mundo se fez atrás de mim. Mais uma renca de estudantes que se aglomeraram na expectativa de resolver seus problemas criados por esse empresa chata.
--- CINQUENTA E OITO! Diz o cara sem um pingo de vontade.
Uma muvuca infinita de conversas, parecendo mais um enxame de varejeiras.
--- Ei tu ta onde?! Coloca teu chip da OI! .... Coloca porra! Larga de ser muquirana!
Quanto amor nessas filas.
E o casalzinho secundarista do SAPIENS se beija com ardor, e nem ai pros velhinhos que vislumbram de olhos arregalados.
Daí chega um colega e blá blá blá...
--- E a matéria tal...?! blá blá. Vai comer no RU...? blá blá. Ainda tem 100 pessoas na minha... blá blá.
(...)
--- Quer saber?! Vou resolver outras coisas. Até a UFPI!
Beijinho, beijinho e tchau tchau pra minha companhia.
A cadeira do meu lado nem esfria e já está novamente ocupada.
Mas é uma desconhecida.
.... Cadê o carinha gritando os números.....?
Ah! Consertaram os mostradores.
(...)...(...)...(...)
(...)...(...)...(...)
Telefone de novo. Blá blá blá.
Tanta coisa ainda pra resolver e eu aqui perdendo meu tempo.
Tava me perguntando como ia terminar meu dia. Agora me pergunto como terminar esse texto...
Daí tem a mulher do meu lado que não para de tentar ler o que eu to escrevendo. E tem a garota lá atrás sem noção, com o telefone tocando música. Sem fone.
Pessoas.
Moscas.
Calor.
Corre-corre.
Pernas.
Conversas.
Vozes.
Tudo passando rapidamente. Sem deixar algo de interessante.
E os números finalmente passam. E vai crescendo aquela expectativa da chegada da sua vez.
Já trocou a pessoa do meu lado de novo.
É tanta gente!
Tem a garotinha branquinha do CEUT com seu Vade Mecum no braço, a galerinha zuadenta do Liceu e do João Clímaco, o carinha com braço engessado do meu lado, os com cara cansada da UFPI e da UESPI, o povinho de cara emburrada do pré-vestibular e blá e blá...
E chega minha vez!!
Pelo menos a atende é simpática. Sorriso bonito e aberto.
--- Período? Curso? Endereço? Ah! Tu mora no la la la?! Conheço fulano, que é amigo da prima da minha vizinha que mora lá!
E blá blá blá....
E quase uma hora e meia de espera, se resolve com 3 minutos e uma sorriso.
Ainda tem um mundaréu de gente pra ser atendido.
Invento de escrever andando.
Ainda colocar passe. Esperar ônibus e... PAAAAM!!!
Uma pequena batida de motos. Um rapaz especial que se assusta, que machuca uma idosa, que eu ajudo, que fica batendo boca com as pessoas. Ela fica bem.
Não fico pra ver o desenrolar da história.
Porque tudo corre... e lá vem meu ônibus. E e borro tudo tentando escrever dentro dele.
E fila no SETUT. Fila do passe. Fila do ônibus.
E tanta coisa pra correr, tanta coisa pra fazer, ainda tem tanto dia pela frente...
Mas todo dia é dia de fila. E lá vou eu pegar mais algumas.
E a fila mais calejada, divertida e cansativa a gente pega todo dia.
A fila pelo viver. A fila de continuar lutando e labutando nessa vida doidivanas.
E lá vou eu seguindo... seguindo nessa fila...
(Dalila Cristina 20/03/2012)

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