Aleatoriedades de um mundo sem sentido, do acordar ao levantar dos movimentos contínuos. O céu lá fora fez-se breu, fechou as cortinas pro astro rei, o mais escaldante de todos os sóis. O mundo vai desabar em água, quando eu mais queria ver uma chuva de granizo, desejo irrelevante diante da natureza, ela é quem manda apesar de sempre saber disso.
Será que ainda dá tempo de escutar a última canção? Antes das trovoadas caírem por terra, de fazer tremer o chão e as mãos forem elevadas aos ouvidos, ultrapassando os limites médios de decibéis permitidos. Não dá mais, já começou.
Melhor deitar um pouco, mesmo não tendo sono, ah! As palavras de Fernando ( o Pessoa) está perto, bem ao meu alcance sem precisar maiores esforços. Tenho aqui um caderno estufado de rascunhos, agora eles que são as memórias, uma biblioteca recheada de sensações. Não quero ler o que escrevi. Volto pro Fernando, às vezes pego o livro, penso numa coisa qualquer, fecho e abro, leio a página que se abriu num sorrateiro sorteio que diz:
“Meu coração, bandeira içada
Em festas onde não há ninguém...
Meu coração barco atado a margem
Esperando o dono, cadáver amarelado entre os juncais...”
Sem querer é que as palavras trazem um sentido singular no marasmo do nadismo, alguma coisa morreu dentro de mim mesmo sendo quase imperceptível, é um daqueles saberes dispensáveis aos estudos científicos de uma renomada universidade que pra quase tudo achou explicação.
As nuvens vão sumindo, um azul anil vai tomando de conta do céu, num formato gentil que logo abrigará o sol novamente. O sono pousará sobre meu corpo junto com uma caixa de sonhos mirabolantes, vou despertar atordoada tentando decifrar como aquele emaranhado de ilusões se encaixa na minha vida. Às vezes me sinto pronta pra camisa de força, no fundo do poço de tranqüilidade, é que se esconde o que ninguém pode ver.
*Ler: Meu coração bandeira içada – Fernando Pessoa como Álvaro de Campos
*Ouvir: Quinto Andar - Tiê
Ilrianny Alves.
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