segunda-feira, 2 de abril de 2012

"O uivo"



Acho que o desespero começa a tomar conta quando você percebe que o limbo tornou-se um lugar comum; quando você olha ao lado e vê que não há vão que lhe sirva de apoio; quando você não consegue encontrar sentido algum em seus anseios.
Hoje me tomei por esse exato desespero. Olhei pro lado e tive a certeza de que não havia nada que eu pudesse me segurar, que eu pudesse explanar euforicamente: "ufa, era disso que eu estava falando". Ao contrário, senti o vazio flutuando bem abaixo dos meus pés como se fosse uma fumaça fina namorando o ar. Senti-me com o coração saltando pela boca em forma de impactos constantes com a minha mente.

Coração X Mente Coração X MenteCoração X MenteCoração X MenteCoração X MenteCoração X Mente Coração X MenteCoração X MenteCoração X MenteCoração X MenteCoração X MenteCoração X Mente

Ele fazia o 'tum-tum-tum' de uma forma mais ousada e triste. Era uma dança eufórica. E eu começava a soluçar. E os soluços aumentavam de acordo com os meus pensamentos. Eu pensava:                                    

"eu poderia ter sonhado menor"

(eu poderia ter sonhado menor eu poderia ter sonhado menor eu poderia ter sonhado menor)

E sonhando menor eu poderia ter escolhido fazer um curso numa faculdade medíocre, conhecido um cara legal e medíocre que eventualmente se tornaria o meu marido (porque eu aprenderia a amá-lo), depois teríamos um filho ou dois e viveríamos felizes numa vida medíocre trocando de carro todo o ano e indo aos bailes dançantes quatro vezes em trezentos e sessenta e cinco dias ( porque, ao menos, eu não deixaria de gostar de dançar). Mas não, contrariamente a isso e graças ao bom deus que eu não acredito, eu escolhi sonhar de um tamanho maior.

E os meus pensamentos seguiam:

"eu sou pequena demais pra mudar mundos"

 e um lançar lágrimas no colchão.

" Como posso eu ter razão se eu não dou duro dez horas por dia ?" Como posso dizer que não é bom ouvir  comentaristas falando sobre os gols do campeonatos estaduais?" "Jamais poderei eu convencer alguém de que a noite não é das novelas globais".

e o lençol já era molhado demais pra poucos minutos de desespero.

"Minha família é o próprio povo e eu não consigo dialogar".

e ainda mais lágrimas.

(...) E de repente  penso que todos estão bem. Penso que todos estão bem em suas dores. E estão confortáveis assistindo os seus programas medíocres. Por que o que há de ruim nisso? Alieno-me em tantas outras coisas que não deixam de se igualar às telenovelas...

E me frusta não conseguir convencer. Frusta-me perceber que os ninhos não têm ouvidos e muito menos boca.
Sou desajeitada no falar.


Mais soluços.
Muito mais soluços.
Soluços frequentes.


Respiro, preciso me acalmar. Vou até a sala: "Mulheres de Areia".

Soluços.

"Tudo se torna real ao tirar o pé da bolha".

Depois fico bem na minha dor. Alieno-me nas palavras de conforto: alguns poemas bonitos, algumas frases curtas, uma música calma....

Algo que traduza diferentemente as mesmas dores.


E saio cantando:


" Pero falta poco para que los demos vuelta!
Lo mire en tus ojos, no se puede parar
Pero falta poco para que los demos vuelta!
Lo mire en tus ojos, esa noche, no se puede parar!!"

Tassi

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