quarta-feira, 4 de abril de 2012

Sobre Alguéns II







Estava um barulho infernal, uma confusão de gente e de corpos que me deixava desatenta e perdida.
Até que você chegou. O som diminuiu e foi ficando afastado, rouco, como pano de fundo.
Há tempos não a via, um pequeno choque percorreu meu corpo. Era como se fosse a primeira vez, algo novo.
Não percebi mais o aglomerado de pessoas à minha volta.
Só vi seus olhos. Tão lindos, tão doces, tão ávidos.
Lindamente pintados na moldura do seu rosto.
Estava naquela camiseta que eu gosto, um jeans simples. Sem muitas frescuras e fru-frus. Isso nunca combinou com você. Sua simplicidade e desprendimento de padrões sempre foi seu charme. Os cabelos pareciam que tinham um brilho que eu nunca tinha visto antes. Estavam menores, mais leves, caiam melhor em seu semblante.
Se eu estivesse mais atenta, provavelmente teria sentido sua presença. Seu perfume teria te entregado, ele sempre me atraiu. Me atrai. Sinto ele de longe. Mesmo quando está nos outros, sinto ele como se estivesse em você. É doce, forte, marcante. Fico procurando em todos os cantos para ver se você está por perto quando sinto ele me bater de leve no rosto. Se algum amigo usa, fico pertinho, só pra enganar meu cérebro bobo de que é você do meu lado.
Aquele sorriso enorme e “briosu” no rosto. Fala com todos como sempre.
De repente vem em minha direção. Me cumprimenta como das outras vezes. Da maneira que faz com todo mundo. Sem mais atenções.
Mas o abraço, ah o abraço!
Não queria largar mais nunca aqueles braços!
Foi nesse momento que me dei conta de tudo.
Tudo voltou mais forte.
Senti sua pele quente e macia, o seu cheiro doce, seu toque suave.
Como deixei você sair da minha vida?! Foi isso que martelou de imediato na minha cabeça.
Como deixei uma pessoa tão especial escapar dentre meus dedos.
As lembranças vieram a tona com força
Nossos beijos proibidos, nosso corpo delicado, nossas fugidas, noites sem dormir, nosso eterno medo de sermos pegos. Meus carinhos disfarçados em público, nossa loucura momentânea e beijos louco e desprendidos de pudor.
Lembro bem de uma manhã.
Parecia coisa de filme água-com-açúcar, daqueles de fazer chorar.
Nossos corpos nus, a janela de vidro do quarto aberta deixava o sol passar. Ia amanhecendo aos poucos. Você me envolvia com seus braços pra me aquecer. O ventilador velho, mais fazia barulho do que espantava os mosquitos. Mas nem sentia os mosquitos, só seu contato me importava. Os pássaros cantavam lá fora desesperadamente e riamos do som. O sono era nosso companheiro, já que nossas noites eram insones, por estar nos amando. A cama alheia era nosso refugio.
Tantas noites. Tantos dias. Tantos momentos bons juntos.
Senti um soco no estômago quando você terminou seu abraço. Queria te puxar novamente pra mim, te beijar forte, te abraçar apertado, sentir cada parte do seu corpo junto ao meu, fixar seu cheiro em mim e não largar mais nunca.
Mas você se foi. Só restou meu coração em frangalhos e minha cabeça bagunçada.
Ficaram mágoas?! De minha parte não. Só lembranças de dias muito felizes da minha vida.
Você acha que não tentei?! Acha que foram apenas noites e noites pra mim?! Não, não foram apenas noites. Foi um pouco da minha vida naquilo tudo.
Fugi?! Sim, fugi. Tive medo. Medo de me envolver, me entregar, de amar, de te amar.
Sim, pode me chamar de covarde. Fui covarde. Tínhamos tudo pra dar certo. Eramos perfeitos juntos.
Mas não posso ter medo?! Não me culpe por isso. Me retraí, me contive. Tantas experiencias loucas eu já tive, e a mais louca de todas tive medo.
Medo de amar.
Hoje não posso te ter mais, voltou a ser de outra pessoa.
Mas aquele abraço! Maldito abraço! Me fez ver tudo de novo, me fez ver tudo que perdi por medo, por burrice.
Mas aquele abraço, aquelas noites, aqueles dias perfeitos vão ficar pra sempre comigo. Junto das lembranças mais felizes da minha vida.
Já não me pertences mais. Já não és minha.
Ah, mas aquele abraço.
Será meu, eternamente meu.
Perdi você de vista na multidão. Não voltou pra mim.
O som retornou e voltei a realidade.
Pensei que eram pássaros cantando ao meu ouvido.
Mas era apenas o barulho de gente ao meu redor.
Me puxaram pelo braço e saí dos meus pensamentos ensolarados.
Voltei a balbúrdia de uma vida sem você.
(Dalila Cristina, 07/03/2012)

Nenhum comentário:

Postar um comentário